sábado, 17 de fevereiro de 2007

FALSO ALARME OU INQUISIÇÃO RENASCIDA?

Vale a pena ler o texto do Professor Lindzen, que denuncia toda a lama dos oportunistas travestidos de “ecologistas”. Ele denuncia o que chama de “junk science”, a “ciência vagabunda”, que mais não é do que a imposição de um conjunto de vigarices sem qualquer fundamento. É uma vigorosa chamada de atenção, repondo a seriedade num debate fundamental. O texto de Lindzen foi publicado no Mídia Sem Máscara (originalmente, no “Wall Street Journal”). Aqui se divulga, refira-se, com ligeiras adaptações de grafia, em função da norma ortográfica vigente em Cabo Verde. O “politicamente correcto” não deve ter a pretensão de apagar as vozes contrárias ao metafísico canto das sereias. A moda não pode subverter a ciência. Precisamos de argumentos. Basta de fantasias. Bom proveito!

A ONU tem sido o carro-chefe de uma cruzada implacável contra o chamado “aquecimento global”. Há bem poucos dias, patrocinou uma operação de charme, de alcance mundial, para convencer os mais incautos. Al Gore, o ex-vice presidente dos EUA, é um dos mais destacados profetas desse movimento purificador. Esteve recentemente em Portugal, cobrando um balúrdio para “falar” de uma matéria científica de grande complexidade. Al Gore não é cientista, mas sim político. Não tem qualquer credencial na matéria em pauta.
No entanto, as posições, nesse jogo ideológico perigoso, inverteram-se por completo: os cientistas não são ouvidos, enquanto os políticos têm a total cobertura da imprensa, na promoção da sanha alarmista. O obscurantismo tomou conta do debate, no meio de chantagens, desinformações e intimidações contra cientistas credenciados. Uma nova Idade Média? Parece, por vezes, que a História se repete…
Da minha parte, ao contrário de Al Gore e outros cavalheiros, limito-me a escutar os cientistas, os que sabem alguma coisa. A minha ignorância, na matéria, impõe-me um cepticismo prudente. O mundo está cheio de “profecias” que, afinal, nunca se concretizaram. A mais famosa dos últimos séculos é, sem dúvida, o Comunismo Marxista. Foi, pelo contrário, um imenso fracasso, que só trouxe ditadura, miséria em larga escala, atraso tecnológico e milhões de vítimas. Um pouco de prudência é, pois, muito importante. Não concorda?
É preciso, penso, escutar todas as vozes, mas vozes sérias, em função dos cânones científicos. A ciência, desde Bacon (ou até antes), baseia-se na prova e no raciocínio lógico. O resto é superstição, propaganda, charlatanice.
O texto que vos trago, hoje, é um depoimento de grande valor, de uma das maiores autoridades mundiais na matéria, Richard Lindzen, Professor de Ciência Atmosférica no MIT, um dos centros científicos mais prestigiados do mundo inteiro. Vale a pena ler o texto do Professor Lindzen, que denuncia toda a lama dos oportunistas travestidos de “ecologistas”. Ele denuncia o que chama de “junk science”, a “ciência vagabunda”, que mais não é do que a imposição de um conjunto de vigarices sem qualquer fundamento. É uma vigorosa chamada de atenção, repondo a seriedade num debate fundamental. O texto de Lindzen foi publicado no Mídia Sem Máscara (originalmente, no “Wall Street Journal”). Aqui se divulga, refira-se, com ligeiras adaptações de grafia, em função da norma ortográfica vigente em Cabo Verde.
O “politicamente correcto” não deve ter a pretensão de apagar as vozes contrárias ao metafísico canto das sereias. A moda não pode subverter a ciência. Precisamos de argumentos. Basta de fantasias.
Bom proveito!
Casimiro de Pina – casipina@hotmail.com
CLIMA DE MEDO: ALARMISTAS DO AQUECIMENTO GLOBAL INTIMIDAM CIENTISTAS DISCORDANTES
por Richard Lindzen
Tem havido repetidas alegações de que os furacões do ano passado foram um outro sinal de mudanças climáticas induzidas pelo homem. Tudo, da onda de calor em Paris às fortes nevascas em Búfalo, tem sido debitado na conta de quem queima gasolina em seus carros e carvão e gás natural para aquecer, refrigerar e electrificar suas casas. Há de se perguntar, como um aumento de um mísero e mal discernível grau centígrado na temperatura média global desde o século XIX ganha aceitação pública como a fonte das recentes catástrofes climáticas?
A resposta tem muito a ver com mal-entendidos a respeito da ciência do clima, além da intenção de se depreciar essa ciência por meio de um triângulo de alarmismo. Afirmações científicas ambíguas sobre o clima são injectadas diariamente na mídia pelos interessados no alarmismo, fazendo crescer o suporte político dos “policy makers” que irão suprir os fundos necessários para mais pesquisas científicas e alimentar mais alarmes para incrementar o suporte político. Afinal, quem colocará dinheiro em ciência – não importa se para o Sida, o espaço ou o clima – onde não houver nada realmente alarmante?
Realmente, o sucesso do alarmismo climático pode ser avaliado pelo aumento dos gastos federais em pesquisas climáticas: de umas poucas centenas de milhões de dólares pré-1990 para US$ 1.7 bilhão hoje. Isto pode ser visto também nos altos investimentos em pesquisas por tecnologias alternativas, tais como energia solar, eólica, hidrogénio, etanol e carvão, assim como na área energética em geral.
Mas há um lado, mais sinistro ainda, em todo esse frenesi. Cientistas que não concordam com o clima de alarmismo têm visto seus fundos de pesquisa desaparecerem, seu trabalho ser escarnecido, além de serem acusados de serviçais da indústria petrolífera, “hackers” da ciência, ou coisa pior. Consequentemente, mentiras sobre mudanças climáticas ganham credenciais científicas, mesmo que sejam frontalmente contrárias à ciência em que, supostamente, elas se baseiam.
Para entender os mal-entendidos perpetuados sobre a ciência do clima e o clima de intimidação, é necessário ter uma ideia sobre questões científicas complexas que perpassam toda a discussão. Primeiramente, comecemos onde há concordâncias. O público, imprensa e “policy makers”, têm sido repetidamente informados do facto de que três alegações têm amplo apoio científico: que a temperatura global subiu um grau desde o final do século XIX; que os níveis de CO² na atmosfera subiram, aproximadamente, 30% no mesmo período; e que o CO² deve contribuir para um futuro aumento do aquecimento global.
Essas alegações são verdadeiras. Contudo, o que o público não percebe é que as alegações nem constituem razão para alarme nem estabelecem a responsabilidade humana sobre o pequeno aumento do aquecimento global que ocorreu.
De facto, aqueles que fazem as mais alarmantes alegações demonstram, com isso, seu cepticismo sobre a própria ciência em que eles afirmam confiar.
Não se trata apenas de que os alarmistas estão trombeteando resultados de modelos que sabemos estarem errados. Mas é que eles estão trombeteando catástrofes que não poderiam acontecer, mesmo que os modelos estivessem correctos, justificando assim investimentos custosos a fim de prevenir o aquecimento global.
Se os modelos estivessem certos, o aquecimento global reduziria a diferença de temperatura entre os pólos e o equador. Quando você tiver uma menor diferença de temperatura você terá menos estímulo para tempestades extra-tropicais, não mais. E, de facto, os resultados do modelo apoiam essa conclusão. Os alarmistas contam a favor de suas alegações, a respeito das tempestades tropicais, um comentário informal de Sir John Houghton do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas da ONU (IPCC), de que um mundo mais aquecido teria uma maior evaporação, com o calor latente, provendo mais energia para os distúrbios. O problema com isso é que a habilidade da evaporação em produzir tempestades tropicais não depende só da temperatura, mas também da humidade – que, quando menor, melhor para a produção de tempestades. Alegações de intenso aumento de temperatura são baseadas em que haja mais humidade, não menos – o que dificilmente explicaria um maior número de tempestades com o aquecimento global.
Mas, então, por que não temos mais cientistas denunciando, abertamente, essa ciência vagabunda? Acredito que muitos cientistas têm-se intimidado, não meramente por dinheiro, mas por medo. Um exemplo: no início deste ano [2006], Joe Barton, deputado pelo Texas, enviou cartas ao paleoclimatologista Michael Mann e alguns de seus co-autores à procura de detalhes de uma análise, financiada por fundos públicos, que alega terem sido os anos 1990 a década mais quente e 1998 o ano mais quente do último milénio.
A preocupação do sr. Barton está baseada no facto de que o IPCC singularizou o trabalho do sr. Mann como um meio de encorajar os “policy makers” a agirem. E eles assim agiriam, depois que o seu trabalho pudesse ser replicado e testado – uma tarefa que se tornou difícil por causa da recusa do sr. Mann, um eminente autor do IPCC, em disponibilizar detalhes do seu trabalho para análise. A defesa do sr. Mann pela comunidade científica, apesar de tudo, foi imediata e ríspida. O presidente da Academia Nacional de Ciências – e também da Sociedade Americana de Meteorologia e da Associação Americana de Geofísica – formalmente protestou, dizendo que o facto do deputado Barton ter singularizado o trabalho de um cientista tinha um cheiro de intimidação.
Tudo isso contrasta, fortemente, com o silêncio da comunidade científica quando antialarmistas estavam na mira do então Senador Al Gore. Em 1992, ele liderou duas audiências públicas no Congresso Americano, durante as quais tentou intimidar cientistas dissidentes, inclusive a mim, para que mudassem de posição e apoiassem o seu alarmismo climático. Nem tampouco a comunidade científica reclamou quando o senhor Gore, como vice-presidente, tentou envolver Ted Koppel [âncora da ABC News até 2005] numa caça às bruxas para desacreditar os cientistas antialarmistas – o que o Sr. Koppel considerou, publicamente, inapropriado. E todos permaneceram mudos quando vários artigos e livros de Ross Gelbspan difamaram os cientistas que discordavam do sr. Gore, chamando-os de pombos-correio da indústria do combustível fóssil.
Infelizmente, esta é apenas a ponta de um não derretido iceberg. Na Europa, Henk Tennekes foi demitido como director de pesquisas da Royal Dutch Meteorological Society depois de questionar os fundamentos do aquecimento global. Aksel Winn-Nielsen, ex-director da World Meteorological Organization da ONU foi “pichado” por Bert Bolin, primeiro presidente do IPCC, como um instrumento da indústria do carvão, por questionar o alarmismo climático. Os respeitados professores italianos, Alfonso Sutera e Antonio Speranza, desapareceram do debate em 1991, aparentemente por perderem o financiamento para as suas pesquisas, por levantarem questões inconvenientes.
E, além de tudo isso, há padrões peculiares em funcionamento nos periódicos científicos, para aqueles artigos cujos autores levantam questões sobre a sabedoria científica da moda. Na Science and Nature tais artigos são comummente recusados sem passar por revisão, como sendo “sem interesse”.
Contudo, mesmo quando tais artigos são publicados, os padrões mudam. Quando eu, juntamente com alguns colegas da NASA, tentamos determinar como as nuvens se comportam sob um regime de temperatura variável, descobrimos o que denominamos então “Efeito Iris”, por meio do qual nuvens superiores do tipo cirrus se contraem com o aumento de temperatura, propiciando uma retro-alimentação climática negativa muito forte, suficiente para reduzir a resposta ao aumento de CO². Normalmente a crítica aos artigos aparecem na forma de cartas aos periódicos, às quais os autores podem responder imediatamente. No entanto, neste caso (e em outros) um fluxo de artigos preparados apressadamente apareceram, alegando erros em nosso estudo, com as nossas respostas demorando meses para aparecerem publicadas. A demora permitiu que o nosso artigo fosse referido como “desacreditado”. De facto, há uma estranha relutância em descobrir-se como o clima realmente se comporta.
Em 2003, quando o relatório do U.S. National Climate Plan recomendava uma alta prioridade para o aprimoramento do nosso conhecimento sobre a sensibilidade climática, o National Reserch Council recomendava, ao invés disso, o apoio à pesquisa sobre o impacto do aquecimento – e não à pesquisa sobre se isso realmente acontecia.
Alarme, ao invés de curiosidade científica genuína, é, ao que tudo indica, essencial para manter o financiamento. E somente os cientistas seniores podem hoje enfrentar essa tempestade alarmista e desafiar o triângulo de ferro dos cientistas alarmistas, dos seus apoiadores e dos “policy makers”.

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Jurista e Docente Universitário

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