INTERNET E CIDADANIA
É certo que S. Majestade o Senhorio José Maria Neves tentou
desqualificar esse belo gesto de cidadania, impregnado, aliás, da mais nobre e
comovente vontade de ajudar o próximo. Para esse pequeno tirano neo-stalinista,
a citada Petição não passou de uma "tempestade num copo de água". Ou seja: a
Constituição da República e os valores fundamentais que ela defende não merecem
qualquer atenção especial do Governo. São supérfluos, rótulos sem importância,
perante a suprema "razão de Estado" do PAICV e os "superiores interesses" da
clique instalada
"O poder tem medo da Internet" – Manuel Castells
Ninguém consegue, nos dias que correm, entender o fenómeno
do "poder" se não prestar uma atenção redobrada às novas tecnologias de
informação, sobretudo à Internet.
Como bem frisou Manuel Castells, já não pertencemos à
"galáxia de Gutenberg": pertencemos, sim, à "galáxia da Internet". É uma
revolução que muitos ainda não compreenderam.
Da educação às novíssimas formas do lazer, passando pela
competitividade económica ou defesa nacional, tudo se joga, hoje, na magia do
computador e do "mapa-mundi digital", se me permitem a expressão.
Descartes afirmou: "Penso, logo existo". No século XXI, a
divisa será, salvo erro, esta: "Estou ligado, logo existo". Thomas Friedman fala
de um "mundo plano".
O Presidente francês Nicolas Sarkozy, ao romper com a velha
estratégia de defesa do general De Gaulle, sintonizou-se com os novos tempos. A
França vai reduzir as suas forças "convencionais" e investir, massivamente, na
"vigilância informática e por satélite"
(http://dn.sapo.pt/2008/06/18/internacional/sarkozy_define_terrorismo_como_inimi.html).
A grande fatia do orçamento militar da França – 200 mil milhões de euros, do
total de 377 mil milhões – vai ser gasta nesses tais "sistemas de vigilância". A
"informação militar" tem já um peso estratégico brutal.
É todo um "Admirável Mundo Novo" que se espraia, afinal, à
nossa frente. Os ataques "ciberterroristas", com o epicentro na Internet, são,
pois, uma das grandes ameaças que pairam sobre as nações. (Desde) há algum tempo
atrás, mediante uma análise cuidadosa das novas tendências e de fontes
intelectuais insuspeitas, venho falando da "Netwar" e da "guerra assimétrica",
mas os nossos burocratas e pacóvios provincianos, tentando disfarçar a tremenda
ignorância, fingem que isso é apenas "teoria da conspiração" e "futurismos" de
quem, já se vê!, não tem mais nada para fazer. Eu falo, com o apoio dos factos e
estudiosos da matéria, da mais pura realidade. Eles vociferam, pelo contrário,
um estado impenitente de fragilidade mental, tentando "ler" o mundo através dos
sentimentos pessoais ("eu acho que...") e dos palpites ditados pela gritaria
circundante.
Uma outra área onde a relevância das "novas tecnologias"
tornou-se crucial é, precisamente, a defesa da cidadania e dos direitos
fundamentais. Veja-se a notável Petição que está a correr na Internet, aberta à
assinatura e aos comentários de qualquer "cibernauta" interessado
(http://www.ipetitions.com/petition/dicriminacaonaescola/index.html). Falo da
Petição a favor da aluna Ana Rodrigues!
A peça é extraordinária, enquanto movimento de cidadania, e
conta já com mais de 300 assinaturas, incluindo estudantes universitários,
investigadores, profissionais liberais e pessoas das mais diversas origens
sociais.
O "Netzen" nº 307, Serafim Duarte, diz o seguinte: "Uma tal
decisão, além de injustificada e absurda, constitui uma clara violação dos
direitos humanos e atenta contra a dignidade da mulher, ainda que jovem
adolescente. O que as jovens nesta situação precisam é de todo o apoio da escola
e não a sua discriminação e castigo. Porque é de um castigo que na verdade se
trata. Isto é intolerável numa sociedade democrática".
A conhecida investigadora e minha amiga Roselma Évora
afirma: " Inconcebível para um país que se diz exemplo de democracia em Africa e
entretanto dá provas de violação de direitos humanos".
Maria Silveira é lapidar ao referir-se ao dislate
"administrativo" do Ministério da Educação: "Para além de injusto não é solução
para o problema de gravidez precoce".
Amélia Sacramento Monteiro: "Esta lei deve ter sido copiada
dos TALIBÃS".
Eli, por sua vez, manda um recado suave à "classe
dirigente" em Cabo Verde: "Makes no sense..."!
Com esta simples e significativa Petição, a favor de uma
jovem aluna injustiçada, os cidadãos cabo-verdianos, espalhados pelas sete
partidas do mundo, deram uma grande lição de cidadania às Veras Duartes e demais
"organismos" de fachada que fingem actuar, chupando as verbas oficiais, em prol
da liberdade e dignidade humana.
É certo que S. Majestade o Senhorio José Maria Neves tentou
desqualificar esse belo gesto de cidadania, impregnado, aliás, da mais nobre e
comovente vontade de ajudar o próximo. Para esse pequeno tirano neo-stalinista,
a citada Petição não passou de uma "tempestade num copo de água". Ou seja: a
Constituição da República e os valores fundamentais que ela defende não merecem
qualquer atenção especial do Governo. São supérfluos, rótulos sem importância,
perante a suprema "razão de Estado" do PAICV e os "superiores interesses" da
clique instalada.
Tornou-se evidente, mais uma vez, aquilo que muitos não
gostam de admitir: não temos um Estadista no comando da República.Temos lá, pelo
contrário, uma criatura de perfil autoritário, alguém que despreza a liberdade
individual e repete os cacoetes irreflectidos do "quero, posso e mando". É a
vigarice governamental no seu máximo esplendor!
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