segunda-feira, 30 de abril de 2007

O ILUMINISMO DE OLIVEIRA SALAZAR

O Iluminismo tem várias faces. É uma esfinge subtil. Abre um espaço vasto de escolhas políticas, com imensas consequências práticas, materiais, culturais e simbólicas. Não devemos esquecer que Salazar, em certa medida, é o continuador do marquês de Pombal, símbolo lusitano do Iluminismo autoritário. A ideologia é a mesma. A discussão sobre a transição cultural e paradigmática, entre nós, é um debate largamente por fazer

No Sábado passado, 28 de Abril, à tardinha, assisti ao último painel da mediática conferência sobre a "Geração Claridade".
Tratou-se, penso, de um exercício criativo e fecundo. O investigador José Maria Semedo falou sobre Júlio Monteiro, Félix Monteiro e os "rabelados" da ilha de Santiago. O escritor Joaquim Arena esteve impecável, dissertando sobre a identidade dos cabo-verdianos nascidos na diáspora, cabendo ao poeta José Luis Tavares encerrar o painel, com uma comunicação sintética e brilhante.
No período do debate, pedi a palavra e, perante tão augusta plateia, fiz alguns comentários acerca do fenómeno dos "rabelados". Falei de um aspecto que, a meu ver, é decisivo, o qual, entretanto, nunca foi tratado pela historiografia (ou sociologia) cabo-verdiana. Isto: a introdução de algumas medidas de higiene pública, que tanto assustou a comunidade rural em causa, foi, na verdade, uma tentativa de MODERNIZAÇÃO.
Tratou-se, pois, de levar as "luzes do progresso" àquela comunidade do Santiago atávico e profundo, numa época dominada pelo Estado Novo repressivo. Mas foi, de qualquer modo, uma tentativa de modernização autoritária, na ausência das liberdades individuais e da democracia política.
A rejeição das mudanças havidas no seio da Igreja católica era, também, a rejeição de uma certa ideia de "modernidade".
Há várias teorias sobre a "modernização". Dei o exemplo, neste mundo globalizado, da modernização da Singapura, por meio, também, da via autoritária, sobretudo no plano político.
Já os Estados Unidos da América assumiram a independência (em 1776) e a construção da nação, logo da modernidade, através da via mais liberal, conjugando a liberdade económica com a política.
O Iluminismo tem várias faces. É uma esfinge subtil. Abre um espaço vasto de escolhas políticas, com imensas consequências práticas, materiais, culturais e simbólicas. Não devemos esquecer que Salazar, em certa medida, é o continuador do marquês de Pombal, símbolo lusitano do Iluminismo autoritário. A ideologia é a mesma.
A discussão sobre a transição cultural e paradigmática, entre nós, é um debate largamente por fazer.

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Jurista e Docente Universitário

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