COMPREENDER/DESMISTIFICAR: EM DEFESA DA COMUNIDADE ATLÂNTICA
Por mim, tenho as maiores dúvidas. O euroatlantismo continua
a ser essencial para os europeus, canadianos e americanos”. Acrescento: “e
também para os cabo-verdianos”. Cabo Verde faz parte, sem dúvida, desse “grande
mar da liberdade” de que falava, num célebre discurso, Winston Churchill. O
Atlântico, a liberdade! Sabe bem recordar que A CAUSA DA LIBERDADE é também a
nossa causa! Desde a década de 90 do século passado, abandonando o autoritário
constitucionalismo soviético, passámos a integrar, de pleno direito, a
Comunidade dos Países Livres, cujo alicerce é o Estado de direito e a
democracia. Mesmo que muitos não gostem…
Samuel Huntington, há uns anos atrás, escreveu um livro que
fez algum furor: “O Choque das Civilizações”. Huntington é um homem sabedor e
inteligente, mas o seu livro parte de um equívoco que já foi devidamente
escalpelizado pela crítica especializada no mundo anglo-saxónico (e mesmo por
esse grande pensador brasileiro que é Olavo de Carvalho, analista soberbo das
Relações Internacionais).
É claro que o eco desse intenso debate intelectual não
chegou às plagas do nosso pobre arquipélago, onde pontifica a “ciência” oculta
de um Filú ou o folclore tagarela e liliputiano do dr. Rui Semedo. É o
“politicamente correcto”, estúpido!
Huntington, de uma forma algo simplista, pensa que o
chamado “Ocidente” está em guerra com o mundo “islâmico”, ou vice-versa. Mais ou
menos isso. É uma tese insustentável, todavia.
Como notou, e muito bem, Olavo de Carvalho, o “Ocidente”
não é um bloco indivisível. Este ponto é decisivo. Os socialistas, esquerdistas,
“teólogos” da libertação, marxistas, antiamericanistas, “chavistas”,
anarquistas, homossexuais, maoistas, castristas, e tutti quanti, SÃO ALIADOS DO
FUNDAMENTALISMO ISLÂMICO, apesar de viverem no Ocidente (Europa, Estados Unidos
da América, etc.) e beneficiarem das conquistas materiais do capitalismo e da
liberdade que a democracia oferece.
Essa GUERRA CULTURAL, no interior do próprio Ocidente,
ganhou foros de cidadania sobretudo na década de 60 do século XX. De qualquer
modo, é preciso estudar muito e analisar os grandes autores (como Jean-François
Revel, Paul Berman ou Bernard Lewis) para se ter uma noção, consistente, da
vastidão do problema e das suas consequências. Nunca vi, na televisão de Cabo
Verde (ou mesmo na rádio nacional), uma discussão, mínima que fosse, à volta
dessa magna questão. Nos meus artigos de jornais, lá vou tentando, num deserto
de estupidez e incompreensão, trazer alguma luz aos noctívagos da ideologia
totalitária, tarefa assaz complicada num país em que pouca gente sabe a
diferença entre Hitler e Estaline, em termos de pensamento político e dimensão
geopolítica.
A guerra do Vietname é o símbolo da confusão que o
“pacifismo” lançou nos espíritos, com o apoio firme e discreto (como no-lo
mostrou Revel, em vários estudos já clássicos) da KGB e dos partidos
totalitários, actuando na sombra. Primeiro passo: o cortejo dos idiotas úteis,
com o apoio dos “media” ocidentais, apagou o contexto da guerra. Uma guerra
provocada pelos erros do imperialismo francês, na Indochina, passou a ser vista,
num ápice, como a suprema face do imperialismo americano! A História toda jogada
no lixo. Actores de Hollywood, artistas populares, escritores, romancistas,
Chomskys, “establishment” académico, todos se mobilizaram para desqualificar os
Estados Unidos da América e desviar a atenção da ameaça comunista, o perigo
principal. Todos passaram a discutir o “fascismo” americano e ninguém mais
prestou atenção à ameaça vietcongue.
Depois, veio o clímax: quando as tropas americanas já
tinham a situação praticamente controlada (como o reconheceram os próprios
opositores, em livros de memórias posteriormente publicados), o Congresso
americano, sob a influência do estribilho “pacifista”, obriga o presidente Ford
a retirar as tropas do Vietname. O que veio depois?
Apenas isto: os comunistas tomam o poder e, logo a seguir,
milhões de criaturas são trucidadas pelos “amigos da paz”! Como o “pacifismo” só
tem olhos quando se trata de censurar a América, e o “imperialismo” ocidental,
as vacas loucas do totalitarismo marxista não deram um pio, prudentes e
sensatas, fingindo que “nada” sucedeu no Vietname e no Camboja do macabro Pol
Pot. Nem uma passeata, nem velas acesas, para lembrar as vítimas de um genocídio
que os inimigos (ocidentais) do Ocidente prepararam com desvelo. Resultado: a
“paz”, no Vietname, matou quatro vezes mais do que a guerra
contestada.
Hoje, a propósito da guerra do Iraque, o “pacifismo”
reaparece novamente, com um vigor que espanta e encanta! Durante o reinado de
Saddam Hussein, que matou milhares e milhares no Iraque, por vezes recorrendo às
armas químicas, ninguém ouviu o mais leve protesto dessas vaquinhas virtuosas,
“defensoras” exclusivas da prosperidade universal e dos direitos humanos. Mais
um exemplo: tem sido um Deus-nos-acuda, na imprensa ocidental, num coro
recorrente e majestoso, acerca dos prisioneiros de Guantánamo, prisão sob a
jurisdição americana. Mas alguém já ouviu (onde? Com que intensidade?) algum
desses cretinos totalitários a denunciar O GUANTÁNAMO DE FIDEL CASTRO, onde
milhares de inocentes sofrem as mais incríveis sevícias e torturas? No
Guantánamo de Bush ninguém morreu, até hoje, enquanto no segundo as vítimas, os
mortos, são... DEZENAS DE MILHAR.
No entanto, toda a violência pacifista, todos os ataques
moralistas, toda a indignação humanista, vão (ó incoerência!) numa única
direcção: América. Mas voltemos ao Iraque…
O resultado tem sido desastroso: por um lado, os
“pacifistas” fingem não perceber que o derrube de Saddam (um ditador sanguinário
e sem escrúpulos) é um passo correcto na direcção da paz e da prosperidade e,
por outro, que o caos no Iraque, neste momento, nada tem a ver com o pobre
George Bush, mas, sim, com a acção demencial de grupúsculos TERRORISTAS que
semeiam a violência nas ruas de Bagdad, e não só. Os cretinos, que nunca
condenam os terroristas (aliás baptizados com este nome giro: “insurgentes”!),
nem a utopia do grande Califado, não querem a paz. Querem a destruição, o fim da
democracia, a sabotagem, a intolerância religiosa, a opressão das mulheres, a
não reconstrução do Iraque, para, no fim, exclamarem: “Bush, texano
irresponsável, você deu cabo desse paraíso que era o Iraque de
Saddam”.
Razão, compreensão, análise, raciocínio lógico, eis alguns
conceitos normativos que o “pacifismo” há muito jogou no caixote de lixo da
História! A Apoteose da Vontade Romântica? Talvez...
A VERDADE, substância da Filosofia, é algo que os idiotas
úteis têm dificuldade em reconhecer, e incorporar na CONSCIÊNCIA, porque seria o
fim da baderna pseudopacifista e da hipocrisia que lhe vai na alma. Não resta um
pingo de vergonha ou sensatez na descrição que eles fazem dos problemas. Um
outro exemplo: Baltasar Garzón, o famoso juiz espanhol, assessor da ONU. Li o
livro de Garzón (“Um Mundo sem Medo”) e percebi, imediatamente, a dimensão
irracional do ódio antiamericano e a razão pela qual a América tem alguma dúvida
quanto ao Tribunal Penal Internacional (TPI).
O livro traz algumas informações interessantes, sobretudo
no capítulo da droga e da corrupção. Mas Garzón é um palhaço capaz de repetir as
banalidades que um qualquer “griot” escreve num jornal ou vocifera na televisão.
Não é próprio de um juiz, símbolo milenar de sapiência e prudência, virtudes
essenciais para um julgamento civilizado. Na página 95 (294, etc.) deturpa,
completamente, os factos e traça um retrato hilariante acerca da guerra do
Iraque. Garzón, que perseguiu com paixão o ditador Pinochet, não diz uma única
palavra (dura) acerca de Fidel Castro, cuja ditadura, no entanto, tem sido muito
mais cruel e incomparavelmente mais assassina e bárbara. Garzón, por tudo isso,
não é apenas juiz: é também um mentiroso e “companheiro de viagem” do
totalitarismo marxista, um fulano que absolve os seus pares sem questionamento
nem remorso. Garzón não passa afinal, tal é a sua brejeirice, de um notável...
garçom, de toga e martelo!
Um homem assim, investido do poder de julgar, no TPI,
facilmente condenaria George Bush pela morte das crianças de uma escola
iraquiana onde rebentou uma bomba na sequência de um ataque suicida. Para ele, o
culpado não é aquele que, movido por uma doutrina apocalíptica, faz explodir a
bomba: é aquele de quem não gostamos! Com juízes desse quilate, incapazes de
distinguir entre o Direito e a Ideologia, passaríamos a habitar, sim, UM MUNDO
COM MEDO, o palco da tirania justicialista, onde Immanuel Kant e o ideal
democrático/liberal dariam lugar, no cavalo da demagogia alter-globalista, à
gritaria da plebe e ao torpor estalinístico, orientado, como se sabe, pela visão
historicista do mundo, oportunamente denunciada por Karl Popper em nome da
Sociedade Aberta.
Nestes dias, quando o Irão, apostado em recuperar a façanha
de 1979, sequestra soldados britânicos e faz chantagens inaceitáveis ao
Ocidente, vale a pena relembrar, e festejar, a aliança euroatlântica,
responsável pela prosperidade europeia e pelo longo período de paz que o mundo
viveu desde a II Guerra Mundial. Ahmadinejad, o fantoche de Teerão, é um
seguidor de Hitler e do holocausto. Contra isso, devemos afirmar os VALORES que
mais estimamos: o Estado de direito, a garantia dos direitos fundamentais, a
igualdade entre o homem e a mulher, a transparência na gestão pública, a
separação entre os poderes, a liberdade religiosa e a livre iniciativa
económica. A prosperidade resulta, pois, desses valores, após uma longa
sedimentação dos princípios cristãos e da filosofia do iluminismo moderado.
Devemos, sem medo de quem quer que seja, afirmar a universalidade desses
valores. No mundo muçulmano (asiático, etc.) há muita gente que acredita nisso,
prova de que não se trata de nenhum “etnocentrismo” ocidental. Há, por exemplo,
uma diferença radical entre oprimir a mulher e defender a sua liberdade de
escolha. E devemos saber, sem titubear, de que lado estamos. A dignidade humana,
cuja base é a liberdade (sob pena de COISIFICARMOS a criatura humana), continua
a ser a fronteira ontológica, antropológica e filosófica entre a civilização e a
barbárie. Ou tratamos o Homem como um fim em si mesmo, ou tratamo-lo como um
meio, isto é, um fiapo ao serviço do Estado ou de uma clique
religiosa.
A Polónia e a República Checa, antigas vítimas de Estaline,
sabem de que lado estão. Percebendo o perigo dos mísseis que podem vir do Irão,
permitiram, já, a instalação de um sistema de defesa nos seus terrirtórios. E
não aceitam a cantiguinha de Putin, ex-KGB, cujo regime mata jornalistas
(dezenas, desde que assumiu o poder) e trafica armas e tecnologia militar para o
Irão. A amizade euroamericana é a única esperança para o futuro. Como escreveu
Miguel Monjardino, talvez o maior pensador geoestratégico de Portugal, na
actualidade, “Coisas tão decisivas como a liberdade, a paz e a prosperidade são
dadas como adquiridas para o futuro. Mas será que é mesmo possível manter o que
temos sem um forte relacionamento euroatlântico nos próximos 15/20 anos? Por
mim, tenho as maiores dúvidas. O euroatlantismo continua a ser essencial para os
europeus, canadianos e americanos”. Acrescento: “e também para os
cabo-verdianos”. Cabo Verde faz parte, sem dúvida, desse “grande mar da
liberdade” de que falava, num célebre discurso, Winston Churchill. O Atlântico,
a liberdade! Sabe bem recordar que A CAUSA DA LIBERDADE é também a nossa causa!
Desde a década de 90 do século passado, abandonando o autoritário
constitucionalismo soviético, passámos a integrar, de pleno direito, a
Comunidade dos Países Livres, cujo alicerce é o Estado de direito e a
democracia. Mesmo que muitos não gostem…
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