sexta-feira, 6 de abril de 2007

COMPREENDER/DESMISTIFICAR: EM DEFESA DA COMUNIDADE ATLÂNTICA

Por mim, tenho as maiores dúvidas. O euroatlantismo continua a ser essencial para os europeus, canadianos e americanos”. Acrescento: “e também para os cabo-verdianos”. Cabo Verde faz parte, sem dúvida, desse “grande mar da liberdade” de que falava, num célebre discurso, Winston Churchill. O Atlântico, a liberdade! Sabe bem recordar que A CAUSA DA LIBERDADE é também a nossa causa! Desde a década de 90 do século passado, abandonando o autoritário constitucionalismo soviético, passámos a integrar, de pleno direito, a Comunidade dos Países Livres, cujo alicerce é o Estado de direito e a democracia. Mesmo que muitos não gostem…

Samuel Huntington, há uns anos atrás, escreveu um livro que fez algum furor: “O Choque das Civilizações”. Huntington é um homem sabedor e inteligente, mas o seu livro parte de um equívoco que já foi devidamente escalpelizado pela crítica especializada no mundo anglo-saxónico (e mesmo por esse grande pensador brasileiro que é Olavo de Carvalho, analista soberbo das Relações Internacionais).
É claro que o eco desse intenso debate intelectual não chegou às plagas do nosso pobre arquipélago, onde pontifica a “ciência” oculta de um Filú ou o folclore tagarela e liliputiano do dr. Rui Semedo. É o “politicamente correcto”, estúpido!
Huntington, de uma forma algo simplista, pensa que o chamado “Ocidente” está em guerra com o mundo “islâmico”, ou vice-versa. Mais ou menos isso. É uma tese insustentável, todavia.
Como notou, e muito bem, Olavo de Carvalho, o “Ocidente” não é um bloco indivisível. Este ponto é decisivo. Os socialistas, esquerdistas, “teólogos” da libertação, marxistas, antiamericanistas, “chavistas”, anarquistas, homossexuais, maoistas, castristas, e tutti quanti, SÃO ALIADOS DO FUNDAMENTALISMO ISLÂMICO, apesar de viverem no Ocidente (Europa, Estados Unidos da América, etc.) e beneficiarem das conquistas materiais do capitalismo e da liberdade que a democracia oferece.
Essa GUERRA CULTURAL, no interior do próprio Ocidente, ganhou foros de cidadania sobretudo na década de 60 do século XX. De qualquer modo, é preciso estudar muito e analisar os grandes autores (como Jean-François Revel, Paul Berman ou Bernard Lewis) para se ter uma noção, consistente, da vastidão do problema e das suas consequências. Nunca vi, na televisão de Cabo Verde (ou mesmo na rádio nacional), uma discussão, mínima que fosse, à volta dessa magna questão. Nos meus artigos de jornais, lá vou tentando, num deserto de estupidez e incompreensão, trazer alguma luz aos noctívagos da ideologia totalitária, tarefa assaz complicada num país em que pouca gente sabe a diferença entre Hitler e Estaline, em termos de pensamento político e dimensão geopolítica.
A guerra do Vietname é o símbolo da confusão que o “pacifismo” lançou nos espíritos, com o apoio firme e discreto (como no-lo mostrou Revel, em vários estudos já clássicos) da KGB e dos partidos totalitários, actuando na sombra. Primeiro passo: o cortejo dos idiotas úteis, com o apoio dos “media” ocidentais, apagou o contexto da guerra. Uma guerra provocada pelos erros do imperialismo francês, na Indochina, passou a ser vista, num ápice, como a suprema face do imperialismo americano! A História toda jogada no lixo. Actores de Hollywood, artistas populares, escritores, romancistas, Chomskys, “establishment” académico, todos se mobilizaram para desqualificar os Estados Unidos da América e desviar a atenção da ameaça comunista, o perigo principal. Todos passaram a discutir o “fascismo” americano e ninguém mais prestou atenção à ameaça vietcongue.
Depois, veio o clímax: quando as tropas americanas já tinham a situação praticamente controlada (como o reconheceram os próprios opositores, em livros de memórias posteriormente publicados), o Congresso americano, sob a influência do estribilho “pacifista”, obriga o presidente Ford a retirar as tropas do Vietname. O que veio depois?
Apenas isto: os comunistas tomam o poder e, logo a seguir, milhões de criaturas são trucidadas pelos “amigos da paz”! Como o “pacifismo” só tem olhos quando se trata de censurar a América, e o “imperialismo” ocidental, as vacas loucas do totalitarismo marxista não deram um pio, prudentes e sensatas, fingindo que “nada” sucedeu no Vietname e no Camboja do macabro Pol Pot. Nem uma passeata, nem velas acesas, para lembrar as vítimas de um genocídio que os inimigos (ocidentais) do Ocidente prepararam com desvelo. Resultado: a “paz”, no Vietname, matou quatro vezes mais do que a guerra contestada.
Hoje, a propósito da guerra do Iraque, o “pacifismo” reaparece novamente, com um vigor que espanta e encanta! Durante o reinado de Saddam Hussein, que matou milhares e milhares no Iraque, por vezes recorrendo às armas químicas, ninguém ouviu o mais leve protesto dessas vaquinhas virtuosas, “defensoras” exclusivas da prosperidade universal e dos direitos humanos. Mais um exemplo: tem sido um Deus-nos-acuda, na imprensa ocidental, num coro recorrente e majestoso, acerca dos prisioneiros de Guantánamo, prisão sob a jurisdição americana. Mas alguém já ouviu (onde? Com que intensidade?) algum desses cretinos totalitários a denunciar O GUANTÁNAMO DE FIDEL CASTRO, onde milhares de inocentes sofrem as mais incríveis sevícias e torturas? No Guantánamo de Bush ninguém morreu, até hoje, enquanto no segundo as vítimas, os mortos, são... DEZENAS DE MILHAR.
No entanto, toda a violência pacifista, todos os ataques moralistas, toda a indignação humanista, vão (ó incoerência!) numa única direcção: América. Mas voltemos ao Iraque…
O resultado tem sido desastroso: por um lado, os “pacifistas” fingem não perceber que o derrube de Saddam (um ditador sanguinário e sem escrúpulos) é um passo correcto na direcção da paz e da prosperidade e, por outro, que o caos no Iraque, neste momento, nada tem a ver com o pobre George Bush, mas, sim, com a acção demencial de grupúsculos TERRORISTAS que semeiam a violência nas ruas de Bagdad, e não só. Os cretinos, que nunca condenam os terroristas (aliás baptizados com este nome giro: “insurgentes”!), nem a utopia do grande Califado, não querem a paz. Querem a destruição, o fim da democracia, a sabotagem, a intolerância religiosa, a opressão das mulheres, a não reconstrução do Iraque, para, no fim, exclamarem: “Bush, texano irresponsável, você deu cabo desse paraíso que era o Iraque de Saddam”.
Razão, compreensão, análise, raciocínio lógico, eis alguns conceitos normativos que o “pacifismo” há muito jogou no caixote de lixo da História! A Apoteose da Vontade Romântica? Talvez...
A VERDADE, substância da Filosofia, é algo que os idiotas úteis têm dificuldade em reconhecer, e incorporar na CONSCIÊNCIA, porque seria o fim da baderna pseudopacifista e da hipocrisia que lhe vai na alma. Não resta um pingo de vergonha ou sensatez na descrição que eles fazem dos problemas. Um outro exemplo: Baltasar Garzón, o famoso juiz espanhol, assessor da ONU. Li o livro de Garzón (“Um Mundo sem Medo”) e percebi, imediatamente, a dimensão irracional do ódio antiamericano e a razão pela qual a América tem alguma dúvida quanto ao Tribunal Penal Internacional (TPI).
O livro traz algumas informações interessantes, sobretudo no capítulo da droga e da corrupção. Mas Garzón é um palhaço capaz de repetir as banalidades que um qualquer “griot” escreve num jornal ou vocifera na televisão. Não é próprio de um juiz, símbolo milenar de sapiência e prudência, virtudes essenciais para um julgamento civilizado. Na página 95 (294, etc.) deturpa, completamente, os factos e traça um retrato hilariante acerca da guerra do Iraque. Garzón, que perseguiu com paixão o ditador Pinochet, não diz uma única palavra (dura) acerca de Fidel Castro, cuja ditadura, no entanto, tem sido muito mais cruel e incomparavelmente mais assassina e bárbara. Garzón, por tudo isso, não é apenas juiz: é também um mentiroso e “companheiro de viagem” do totalitarismo marxista, um fulano que absolve os seus pares sem questionamento nem remorso. Garzón não passa afinal, tal é a sua brejeirice, de um notável... garçom, de toga e martelo!
Um homem assim, investido do poder de julgar, no TPI, facilmente condenaria George Bush pela morte das crianças de uma escola iraquiana onde rebentou uma bomba na sequência de um ataque suicida. Para ele, o culpado não é aquele que, movido por uma doutrina apocalíptica, faz explodir a bomba: é aquele de quem não gostamos! Com juízes desse quilate, incapazes de distinguir entre o Direito e a Ideologia, passaríamos a habitar, sim, UM MUNDO COM MEDO, o palco da tirania justicialista, onde Immanuel Kant e o ideal democrático/liberal dariam lugar, no cavalo da demagogia alter-globalista, à gritaria da plebe e ao torpor estalinístico, orientado, como se sabe, pela visão historicista do mundo, oportunamente denunciada por Karl Popper em nome da Sociedade Aberta.
Nestes dias, quando o Irão, apostado em recuperar a façanha de 1979, sequestra soldados britânicos e faz chantagens inaceitáveis ao Ocidente, vale a pena relembrar, e festejar, a aliança euroatlântica, responsável pela prosperidade europeia e pelo longo período de paz que o mundo viveu desde a II Guerra Mundial. Ahmadinejad, o fantoche de Teerão, é um seguidor de Hitler e do holocausto. Contra isso, devemos afirmar os VALORES que mais estimamos: o Estado de direito, a garantia dos direitos fundamentais, a igualdade entre o homem e a mulher, a transparência na gestão pública, a separação entre os poderes, a liberdade religiosa e a livre iniciativa económica. A prosperidade resulta, pois, desses valores, após uma longa sedimentação dos princípios cristãos e da filosofia do iluminismo moderado. Devemos, sem medo de quem quer que seja, afirmar a universalidade desses valores. No mundo muçulmano (asiático, etc.) há muita gente que acredita nisso, prova de que não se trata de nenhum “etnocentrismo” ocidental. Há, por exemplo, uma diferença radical entre oprimir a mulher e defender a sua liberdade de escolha. E devemos saber, sem titubear, de que lado estamos. A dignidade humana, cuja base é a liberdade (sob pena de COISIFICARMOS a criatura humana), continua a ser a fronteira ontológica, antropológica e filosófica entre a civilização e a barbárie. Ou tratamos o Homem como um fim em si mesmo, ou tratamo-lo como um meio, isto é, um fiapo ao serviço do Estado ou de uma clique religiosa.
A Polónia e a República Checa, antigas vítimas de Estaline, sabem de que lado estão. Percebendo o perigo dos mísseis que podem vir do Irão, permitiram, já, a instalação de um sistema de defesa nos seus terrirtórios. E não aceitam a cantiguinha de Putin, ex-KGB, cujo regime mata jornalistas (dezenas, desde que assumiu o poder) e trafica armas e tecnologia militar para o Irão. A amizade euroamericana é a única esperança para o futuro. Como escreveu Miguel Monjardino, talvez o maior pensador geoestratégico de Portugal, na actualidade, “Coisas tão decisivas como a liberdade, a paz e a prosperidade são dadas como adquiridas para o futuro. Mas será que é mesmo possível manter o que temos sem um forte relacionamento euroatlântico nos próximos 15/20 anos? Por mim, tenho as maiores dúvidas. O euroatlantismo continua a ser essencial para os europeus, canadianos e americanos”. Acrescento: “e também para os cabo-verdianos”. Cabo Verde faz parte, sem dúvida, desse “grande mar da liberdade” de que falava, num célebre discurso, Winston Churchill. O Atlântico, a liberdade! Sabe bem recordar que A CAUSA DA LIBERDADE é também a nossa causa! Desde a década de 90 do século passado, abandonando o autoritário constitucionalismo soviético, passámos a integrar, de pleno direito, a Comunidade dos Países Livres, cujo alicerce é o Estado de direito e a democracia. Mesmo que muitos não gostem…

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