LIBERDADE: “FORMAL” OU “REAL”? UMA CRÍTICA À TEOLOGIA DA LIBERTAÇÃO
Boff, tido como um grande “pensador” no Brasil, e guia
espiritual da famosa “teologia da libertação”, mais não é, na verdade, do que um
tremendo falsificador e mentiroso sem escrúpulos. É de uma estupidez comovente
falar, como ele fala, de um “marxismo ético”. Isso não existe. É apenas conversa
mole de um agitador trapaceiro e ignorantão
Uma das críticas convencionais contra a tradição liberal (a
tradição da Magna Carta e dos “Federalist Papers”) baseia-se no “facto” de que a
liberdade individual é, ou seria, uma prerrogativa meramente “formal”. E
descartável. O socialismo seria ontologicamente superior porque propugna uma
liberdade “real”. Ora, trata-se de um truque de algibeira, introduzido, na
História das Ideias, pelo jargão estalinista.
Karl Marx achava que as “liberdades burguesas”, trazidas
pelas revoluções liberais, eram insuficientes. O seu socialismo “científico”
consistiria, então, no aprofundamento dessas mesmas liberdades, não no seu
desaparecimento. Nos Manuscritos Económico-Filosóficos, e noutros textos, o
pensador judeo-alemão explicitou claramente essa posição. O socialismo seria uma
espécie de “etapa superior”, não o regresso à barbárie.
Aliás, Marx, que não era estúpido, fugiu para a Inglaterra
[liberal] quando foi perseguido na França e na sua pátria de origem. Procurou a
protecção de que necessitava na podridão do “capitalismo selvagem”, no reino de
Sua Majestade e do parlamentarismo. Marx, como se vê, não era assim tão
marxista…
Hoje, quando vemos um escroque falante como Hugo Chávez,
discípulo de Fidel Castro, a anunciar a sua “revolução bolivariana”, com base na
abolição das liberdades e em nome de uma meta mal definida, percebemos a
dimensão da fraude intelectual no seu estado puro. A distância que separa Chávez
do socialismo “científico” é a distância que separa uma puta de esquina da madre
Teresa de Calcutá. Sem olvidar que o senhor Karl Marx apoiava entusiasticamente
o imperialismo, desde o imperialismo britânico na Índia às conquistas imperiais
dos Estados Unidos da América.
A legião de idiotas úteis que, hoje, em nome do marxismo,
lança vitupérios contra “o império” não o sabe, evidentemente. Assim como não
sabe que a ideia (da lavra, inter alia, de Leonardo Boff) de um tal “marxismo
ético”, fermento audacioso!, não passa da maior impostura intelectual e política
dos dois últimos séculos.
Boff, tido como um grande “pensador” no Brasil, e guia
espiritual da famosa “teologia da libertação”, mais não é, na verdade, do que um
tremendo falsificador e mentiroso sem escrúpulos. É de uma estupidez comovente
falar, como ele fala, de um “marxismo ético”. Isso não existe. É apenas conversa
mole de um agitador trapaceiro e ignorantão.
Na doutrina marxista não há lugar para a reflexão ética.
Marx achava, inclusive, que a ética (ou a “justiça”) era uma palavra sem
importância, resquício da classe “burguesa”, influenciada pela velha piedade
cristã, religião que, de resto, ele odiava, de fio a pavio, enquanto dispensável
artefacto moralista e “ópio do povo”. O importante, na sua óptica, era a “luta
de classes”, o triunfo da “revolução socialista” e o estabelecimento de um novo
e edificante “modo de produção”, o comunismo libertador (a “sociedade sem
classes”), precedido, claro, pela “ditadura do proletariado”, ou seja, “a
ditadura do Partido Comunista”, na perspicaz observação de Bertrand Russell. Nas
suas reflexões sobre a Comuna de Paris, Marx enfatiza o papel da violência e
destaca a necessidade imperiosa de uma como que “astúcia revolucionária” para
levar o projecto ao porto seguro.
É claro que tudo isso foi milagrosamente esquecido, após a
brilhante “pedagogia” de Paulos Freires e companhia limitada. O declínio do
padrão universitário fez o resto, conferindo ao lixo (burlesco) de Leonardo Boff
o estatuto de verdade revelada e inquestionável. Milhares de néscios, acto
contínuo, deificaram, com a reverência própria da estupidez, o herói das tolices
contraditórias, capaz de conciliar (arte genial!) o marxismo e o Cristianismo!!!
Como diria o outro, “a estupidez humana não tem limites”. É um facto. Bento XVI
fará, brevemente, uma visita ao Brasil. Irá encontrar uma Igreja desorientada,
confusa, minada por charlatães como Bettos e Boffs, os quais pregam o marxismo
sob a capa do Evangelho. É o momento oportuno de separar as águas. O Papa deve
pôr essa gente no respectivo lugar. A mensagem do Sumo Pontífice deve ser clara
e clarificadora: os chamados “teólogos da libertação” devem abandonar a Igreja
católica, onde estão seguramente a mais. Eles que façam política (partidária)
abertamente, criando um partido para o efeito. Ou, mais fácil ainda, filiando-se
nos partidos comunistas já existentes no Brasil, tributários do Foro de São
Paulo, a Internacional, fundada por Lula da Silva e Fidel Castro, que congrega
as principais forças comunistas da América Latina. Ver, sobre isso, o precioso
apontamento de Olavo de Carvalho
(www.midiasemmascara.com.br/artigo.php?sid=5504&language=pt).
O Papa deve ser muito claro, mostrando aos fiéis que entre
o Cristianismo e o marxismo há um abismo absolutamente intransponível. A
ambiguidade discursiva só reforça a charlatanice dos marxistas de batina. O
Cristianismo, religião de paz e dignidade humana, não prega a violência
sectária, nem pode caucionar um regime político maldito que, durante o século
XX, matou milhões de pessoas no mundo inteiro, na União Soviética, na China, no
Camboja, no Vietname ou em Cuba. Espera-se, desta vez, firmeza e lucidez por
parte de Bento XVI. Que Deus o ilumine.
O Papa, filósofo experimentado, deve recusar a
estalinística e falsa antinomia entre a “liberdade formal” e a “liberdade real”,
um truque desesperado dos ditadores de pacotilha (ou candidatos a ditadores).
Mas o que é a liberdade “real”? É a ditadura de um grupo pretensamente iluminado
sobre a sociedade inteira? Qual é, afinal, o seu exacto conteúdo?
A Liberdade é um único sistema. E inclui todas as
liberdades constitucionais, desde a liberdade política e religiosa, de
consciência, de imprensa, de aprender e ensinar, de crítica, de iniciativa
económica e cultural, ao direito a um processo justo e equitativo. Os países com
os melhores índices de Desenvolvimento Humano são aqueles onde as liberdades da
Pessoa Humana são respeitadas e diligentemente protegidas pelas leis e
instituições do Estado. As Sociedades Abertas, no sentido popperiano da
expressão, são aquelas onde os POBRES vivem melhor e com muito mais
oportunidades. A teologia da libertação, sobretudo na América Latina, não
distingue suficientemente entre A OPÇÃO PELOS POBRES E A OPÇÃO PELA POBREZA.
Esta última, diga-se, é a condição imoral dos países comuno-estalinistas, com a
benção de certos “teólogos”.
Basta analisarmos o movimento migratório para se chegar a
uma conclusão fundamentada acerca das oportunidades concedidas aos mais pobres.
O Papa não deve enganar-se, ao avaliar os sistemas políticos e a ética
subjacente à economia e à sociedade. Os princípios da Igreja são a defesa dos
Direitos Fundamentais, a Justiça, a Paz, a Liberdade e a Solidariedade. Convivem
numa tensão difícil, que só pode resolver-se, e actualizar-se, no quadro da
Democracia e do Estado de Direito, balizas éticas de uma convivência pacífica,
humana, plural e civilizada. Vale a pena transcrever aqui e agora, tal é a sua
pertinência axiológica e filosófica, uma penetrante observação de Edgar Morin
(in “As grandes questões do nosso tempo”, Editorial Notícias, Lisboa, 1987, p.
160):
“Não existe progressão das liberdades chamadas reais na
perda das liberdades chamadas formais. Toda a repressão na informação e na
opinião se traduz em opressão na sociedade. Tenho até a impressão de que há
correlação política entre a capacidade de mentir e a capacidade de oprimir. A
grande descoberta dos intelectuais polacos e húngaros em 1957-1958, e dos
checoslovacos em 1968, foi que a liberdade de expressão a que aspiravam
correspondia ao apelo e à necessidade de operários e camponeses. A ideia de se
dever pagar, com a privação da liberdade, a aquisição de um pouco de igualdade é
um mito frágil. Devemos reaprender que a liberdade impede, não o proletário de
comer, mas sim o tirano de dormir”.
Morin opõe, nesse livro fundamental, duas posições de
princípio: a) “O povo não necessita de liberdades (formais), mas sim de se
libertar da exploração”. Esta é a posição, muito sedutora e maquiavélica, dos
déspotas e dos defensores da censura e da repressão política. É a posição de
Fidel Castro, Hugo Chávez e do PAICV, durante a I República
(1975-1990).
Nos antípodas disso, temos a posição mais liberal e
democrática: b) “O povo necessita de liberdades, incluindo para se libertar da
exploração”. Esta última, mais realista e humana, é a posição de filósofos
clássicos como Stuart Mill, Montesquieu ou Tocqueville. Obteve consagração na
Constituição cabo-verdiana de 1992. Bastam estas linhas para desmistificar o
truque estalinista, esteio da tentação totalitária.
Quem quiser saber mais sobre a actualidade cabo-verdiana
pode consultar um artigo meu analisando o recente relatório da Freedom House
(www.expressodasilhas.cv/c_base.php?gc=Ver%20colunista&id=2648).
Veja-se, também, uma importante análise de Humberto
Cardoso, acerca do simpósio internacional sobre a “Geração Claridade”
(www.emcima.blogspot.com). O texto chama-se “Duplicidades” e desmonta, de forma
implacável, a ratoeira cultural do sr. José Maria Neves, recorrente nas suas
tentativas (bizantinas) de arrebanhar a cultura e impor uma agenda monística ao
país. Debalde, meu bem!
Deixo-vos, neste ponto, com um artigo magnífico de Armando
Valladares, ex-preso político na ilha de Fidel Castro e autor de uma obra de
referência (“Contra toda a esperança”) sobre a ditadura totalitária cubana. Foi
embaixador dos Estados Unidos ante a Comissão de Direitos Humanos da ONU. O
texto foi originalmente publicado no Diario las Américas e reproduzido no Mídia
Sem Máscara.
BENTO XVI, CELAM E “FAVELA” CUBANA
por Armando Valladares, em 8 de Maio de 2007
No próximo dia 13 de Maio de 2007, no Santuário de Nossa
Senhora Aparecida, Brasil, S.S. Bento XVI inaugurará a V Conferência Geral do
Episcopado Latino-Americano e do Caribe (CELAM), sob o lema “Discípulos e
Missionários de Jesus Cristo: para que nEle nossos povos tenham
vida”.
Minha angustiada interrogação, enquanto católico cubano e
ex-preso político nos cárceres comunistas, durante 22 anos, é se esta reunião do
CELAM abordará o drama dos católicos cubanos ou se, mais uma vez, como nas
reuniões anteriores de Medellín, Puebla e Santo Domingo, optará pelo silêncio.
Corri os olhos, com ansiosa expectativa, pelo extenso documento de trabalho da
próxima reunião episcopal, intitulado “Síntese das contribuições recebidas para
a V Conferência Geral do Episcopado Latino-Americano”. Do mesmo modo que nos
documentos das conferências anteriores do CELAM, encontram-se alusões solidárias
em relação aos “pobres”, aos “desamparados”, aos “excluídos”, às vítimas de
“discriminações” e de “violência”, e se insiste numa “opção permanente” em favor
dos “pobres”. Não obstante, nenhuma dessas alusões, sequer por analogia, parece
referir-se à situação de total pobreza, desamparo, exclusão, discriminação e
violência que sofrem, desde há quase meio século, 11 milhões de irmãos, em
particular os católicos, que agonizam espiritual e materialmente na “favela”
cubana.
No drama cubano há algo mais grave que a colaboração de
figuras eclesiásticas com a polícia secreta do regime, como foi o caso da
Polónia e de outros países do Leste europeu. Trata-se da identificação
ideológica de bispos cubanos com as próprias metas comunistas, tal como mostrei
em recente artigo (cf. A. Valladares, “Bispos cubanos, ENEC e castrismo sem
Castro”, Diario Las Américas, Miami, 12 de Janeiro de 2007).
Trata-se também da identificação ideológica com o castrismo
dos artífices da “teologia da libertação” latino-americana, a qual, com o aval
dos bispos cubanos, se metamorfoseou em Cuba numa “teologia da colaboração” com
o regime. Trata-se, por fim, de declarações complacentes e até elogiosas em
relação ao comunismo cubano e ao seu ditador, implacável perseguidor dos
católicos, de uma longa série de altos eclesiásticos que peregrinaram na
ilha-cárcere, vários deles cardeais, três dos quais coroaram suas carreiras
eclesiásticas como secretários de Estado da Santa Sé (cf. A. Valladares, “O
pedido de perdão que não houve: a colaboração eclesiástica com o comunismo”; “O
drama cubano e o silêncio vaticano” e “Cuba: o Lobo e os Pastores celebram
encontro 'construtivo e amistoso'”, Diario Las Américas, Miami, 22 de Março de
2000, 26 de Abril de 2003 e 29 de Novembro de 2005).
O sofrimento espiritual do rebanho católico cubano em
relação a essa atitude complacente dos Pastores, ante o Lobo vermelho, é
dilacerante. Durante a realização do ENEC o então arcebispo de Santiago de Cuba,
Monsenhor Pedro Meurice, chegou a reconhcer: “Consideravam-nos uma Igreja de
mártires e agora alguns dizem que somos uma Igreja de traidores”.
A V Conferência do CELAM, no que diz respeito à Cuba
comunista, tem a oportunidade de passar para a História como a primeira
assembleia do CELAM que saiu em defesa da integridade espiritual e física dos
cubanos, abrindo o seu coração e os seus braços ao rebanho cubano, dando-lhe
consolo. Esse motivo de esperança vê-se realçado pelo facto de que S.S Bento XVI
inaugurará as sessões, ocasião na qual traçará as directrizes gerais de tão alta
reunião episcopal.
Que as invocações da Virgem de la Caridad del Cobre,
Padroeira de Cuba, e de Nossa Senhora Aparecida, Padroeira do Brasil, toquem as
consciências e os corações dos participantes da V Conferência da CELAM,
inspirando-lhes palavras adequadas para que rompam o muro do silêncio, de
indiferença e de vergonha que asfixia meus irmãos que sofrem na “favela”
comunista do Caribe.
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