quinta-feira, 15 de março de 2007

JÁ OUVIU FALAR DE “SOCIALISMO SINCRÉTICO”? NÃO? ENTÃO, ESTÁ FORA!

Em Cabo Verde, como não há um debate à volta das questões internacionais, tudo isso tem passado ao lado. Acontece que Cabo Verde não é uma ilha perdida. A ignorância das coisas do mundo, e das questões decisivas, só piora o nosso posicionamento estratégico. De qualquer forma, o nosso actual Presidente da República, sem medo do ridículo, é um adepto das teses terceiro-mundistas e anarco-socialistas do cartel chavista. Viu-se, em 2006, na cimeira dos “não alinhados”, realizada em Cuba, onde não poupou elogios ao arquiditador Fidel Castro, mestre-de-cerimónias do sovietismo “tropicaliente” e mentor ideológico, com a sua autoridade de dinossauro estatizante, do Foro de São Paulo
A pouco e pouco, inclusive na Europa, os comentadores estão a perceber que Hugo Chávez e a patota que lhe dá respaldo não são um mero prolongamento do “movimento populista”. A sua estratégia é geneticamente comunista, e eles nunca esconderam tal programa de luta.
Articulados no Foro de São Paulo (veja-se, numa síntese primorosa, Olavo de Carvalho, “A Palavra das FARC”, em www.olavodecarvalho.org/semana/070214dce.html), a nova Internacional fundada em 1990 por Fidel Castro e Lula da Silva e mantida em segredo durante mais de uma década, os discípulos de Pol Pot e Estaline, “paizinho dos povos”, renovaram, contudo, o “modus operandi”.
O “socialismo sincrético” é o resultado “revolucionário” dessa renovação filosófica, uma mistura das tendências [políticas] mais estúpidas e ineficazes, que tanto mal fizeram durante o século XX. Remexendo no caixote de lixo da História, a patota pró-chavista ergueu, pois, esse extraordinário Monstro Totalitário, radicalmente antiamericano, destruidor do Estado de direito, colectivista na economia e inimigo da liberdade de imprensa.
De vez em quando, a elite continental ressentida, face aos resultados económicos e sociais pouco recomendáveis, lá organiza uma passeata, em São Paulo ou Caracas, e estrebucha aos gritos: “Abaixo o imperialismo americano”, que é como quem diz, numa catarse do desespero e da inveja, “Abaixo a nação mais próspera, que deu certo ao adoptar as políticas que nós nunca soubemos adoptar”. O carnaval da turba esquerdizóide tem uma função assaz precisa: alivia o fel colectivista, numa América Latina cada vez mais...Latrina. O socialismo sempre foi assim. É uma prostituta arrependida que lança as culpas, não sobre o proxeneta ideológico que a enganou, mas sobre os amigos que lhe indicaram um outro rumo, mais digno e promissor.
Os resultados estão à vista: a Venezuela, apesar das suas riquezas naturais e do petróleo, é um país cada vez mais pobre e corrupto (veja-se a lista da Transparency International, ong alemã que avalia a corrupção no mundo). A Bolívia, outro caso crónico de fracasso institucional e político, vai na mesma linha e o Brasil, quem diria!, segue atrás, com um Lula da Silva pronto a dobrar a cerviz perante os caprichos de uma republiqueta, como se viu no caso da nacionalização boliviana da Petrobrás. Lula não é parvo e, sendo fundador do Foro de São Paulo, sabe que o imperialismo comunista, visão sublunar do El Dorado marxista, conta mais do que o interesse nacional brasileiro! A Pátria que se lixe.
E assim se perde todo o capital histórico, simbólico e diplomático de um país como o Brasil, doravante incapaz de enfrentar o “cocalero” Evo Morales e as suas tontices indígenas e pré-modernas.
Em Cabo Verde, como não há um debate à volta das questões internacionais, tudo isso tem passado ao lado. Acontece que Cabo Verde não é uma ilha perdida. A ignorância das coisas do mundo, e das questões decisivas, só piora o nosso posicionamento estratégico. De qualquer forma, o nosso actual Presidente da República, sem medo do ridículo, é um adepto das teses terceiro-mundistas e anarco-socialistas do cartel chavista. Viu-se, em 2006, na cimeira dos “não alinhados”, realizada em Cuba, onde não poupou elogios ao arquiditador Fidel Castro, mestre-de-cerimónias do sovietismo “tropicaliente” e mentor ideológico, com a sua autoridade de dinossauro estatizante, do Foro de São Paulo.
Pedro Pires revelou-se na plenitude: de manhã, abre um sorriso generoso aos enviados de George Bush, que ofereceu o milionário MCA (estímulo à democracia e à liberdade económica) ao nosso país; mas, à noite, de foice e martelo e barrete vermelho, junta-se à mirabolante comitiva de Kadhafi, Ahmadinejad e Fidel Castro, cuja estratégia é destruir a economia de mercado e a democracia liberal. Uma autêntica trapalhada diplomática, assente num cinismo larvar, fruto do ódio antiamericano e do catecismo leninista, o pilar irrenunciável desde os dias do PAIGC...
Recentemente, no nosso continente, em Nairobi, realizou-se mais um “meeting” do Fórum Social Mundial. O evento passou despercebido em Cabo Verde, para variar! Algumas “teses” do socialismo sincrético foram ali discutidas e actualizadas. O Espectro, pórtico do Manifesto Comunista, injectou, nas savanas de Jamhuri ya Kenya, mais uma dose da macumba africana e do indigenismo mental latino-americano. Mistura explosiva! Vale a pena compreender, se possível!, o pensamento dessa curiosíssima casta de OPNI (objectos políticos não identificados). A editora Mídia Sem Máscara publicou, no dia 7 de Março p.p., um texto que descodifica essa estratégia estalinística renovada, o tal “socialismo sincrético”, o mel das abelhas totalitárias do terceiro-mundo e arredores.
Boa leitura!
Casimiro de Pina – casipina@hotmail.com
P.S.: Robert Mugabe, dizem os jornais, quer mais um mandato! Espero que a nova “moda” não chegue, dentro em breve, ao nosso querido país, eh, eh, eh, eh!!!
FÓRUM SOCIAL: “BOMBA ATÓMICA” E ESTRABISMO POLÍTICO
A Venezuela sofre uma avalanche de medidas ditatoriais para controlar os poderes do Estado, os meios de comunicação, o ensino e a iniciativa privada. A recentemente aprovada Lei Habilitante permite ao presidente Chávez governar por decreto, com poderes praticamente absolutos.
Nesse contexto, passou despercebido um acontecimento sob vários aspectos mais grave, que o próprio Chávez qualificou como “bomba atómica da Venezuela”: a “explosão do poder comunal”. Trata-se da criação de 18 mil “conselhos comunais”, comunidades auto-gestionárias de inspiração comuno-anarquista, que deverão substituir os governos e as câmaras municipais e, inclusive, funções do próprio Estado.
Esse “poder comunal” será institucionalizado por uma comissão legislativa que estuda a reforma constitucional. Foi comparado, por Chávez, aos “soviets” da Revolução de outubro de 1917 na Rússia e por vários de seus seguidores com a “Comuna de Paris” de 1871. Alguns dos seus adversários chegaram a vislumbrar nos “conselhos comunais” o germe de um processo com analogias com o impulsionado por Pol Pot no Camboja, segundo constata o enviado especial do jornal “The New York Times”, Simón Romero, em extensa reportagem.
Em 2006, Chávez destinou US$ 900 milhões aos “soviets” venezuelanos e, em 2007, anunciou a duplicação da ajuda, que chegará à fabulosa soma de US$ 1,8 bilhão. Alguns críticos assinalam que tais “conselhos comunais” fortalecerão ainda mais o poder já considerável do Estado venezuelano. Na realidade, existem indícios de que esse processo, qualificado por Chávez de “Socialismo do Século XXI”, poderia constituir uma passagem do socialismo de Estado rumo à auto-dissolução do próprio Estado. Caminhar-se-ia, assim, para a meta final, anárquica e auto-gestionária do comunismo, na qual, segundo a expressão de Marx, o próprio Estado irá para um museu de antiguidades.
Confirmam estas hipóteses as declarações do novo ministro do Poder Popular para a Participação e o Desenvolvimento Social, David Velásquez, 28 anos – o primeiro membro do Partido Comunista da Venezuela que ocupa um cargo ministerial –, [ao afirmar] que a sua meta é a de fazer com que o aparato estatal venezuelano, tal como se conhece até o momento, se transforme em “desnecessário”, sendo substituído em suas funções pelos “conselhos comunais”. Esta declaração, junto com outros antecedentes no mesmo sentido, foi transcrita também na aludida reportagem do jornal “The New York Times” por Simón Romero.
A Venezuela caminha para o abismo, empurrada por um tipo de socialismo “sincrético”, mescla contraditória e ambígua de religião, de anarquismo, de indigenismo, de estratégias pós-gramscianas do Fórum Social Mundial (FSM) e de comunismo, rumo à dissolução, não somente do Estado, como também da própria sociedade. Socialismo “sincrético” no qual, como já se mostrou, personagens do Fórum Social Mundial e do anarquismo internacional colocam as suas esperanças. Socialismo “sincrético” que, em certo sentido, é o oposto do exacerbado racionalismo mal chamado de materialismo científico, que serviu de fundamento ao antigo socialismo de Estado. O socialismo “sincrético”, com o fortalecimento dos “soviets” comunais e a corrosão das funções do Estado, é uma meta que transcende a Venezuela, e está a chegar a países como Bolívia e Equador.
O “neomoderado” Luiz Dulci, ministro Secretário-Geral da Presidência do Brasil, assessor directo do “neomoderado” presidente Lula, explicou no recente 7.º Fórum Social Mundial, realizado em Nairobi, que o seu Governo, por razões estratégicas e políticas, não pode apresentar um perfil “radical”, mas, em contrapartida, o papel dos chamados “movimentos sociais” é o de fazer “pressão” sobre a opinião pública e sobre os Governos para que estes caminhem no sentido da esquerda. No 12.º [encontro do] Foro de São Paulo, Marco Aurélio Garcia, alto assessor internacional do presidente Lula, havia dado o seu aval às “grandes desestabilizações” criadas pelos chamados “movimentos sociais”, que serviriam para “quebrar hegemonias”, assim como para, supostamente, “expandir” a democracia no continente. É, portanto, uma clara estratégia na qual os “neomoderados” e os “radicais” cumprem cada um o seu papel, com uma meta coincidente.
Partindo deste ponto de vista, parece ficar claro o papel dos novos “soviets” venezuelanos, dos “movimentos sociais” brasileiros, como o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) e das numerosas redes de ONGs latino-americanas: com a sua pressão revolucionária dariam o pretexto aos Governos de aparência moderada para ir cedendo e deslizando os seus países, gradualmente, para a desintegração das instituições.
O que foi dito acima constitui um plano de envergadura; porém não deve ser motivo de desalento, pelo contrário. Deixar à luz do dia o fio condutor desse avançado plano revolucionário na América Latina – que vai-se formando nas profundidades da vida sociopolítica – funciona à maneira de um antídoto e contribui para corrigir o estrabismo de certas análises que interpretam a marcha da esquerda usando velhas categorias de pensamento, eficazes para analisar o comunismo clássico do século XX, mas insuficientes para discernir as novas estratégias do anarco-socialismo do século XXI.

Seja o primeiro a comentar

Enviar um comentário


About Me

Jurista e Docente Universitário

O Espírito das Leis ©

TOPO