sexta-feira, 29 de dezembro de 2006

O TOTALITARISMO E A FALSIFICAÇÃO DA HISTÓRIA: O CASO DE SALVADOR ALLENDE

Era mentira. Era tudo mentira. Allende não era democrata. Nem amava, tampouco, a República e a legalidade. Operava, abertamente, isso sim, contra os fundamentos da tradição republicana.
Estava a destruir, e não a construir, a democracia chilena, apoiando grupos armados, ilegítimos e terroristas, que amedrontavam as populações. Desrespeitava o Poder Judiciário. Zombava do órgão Legislativo, usurpando os seus poderes legais… Quem escrevia, afinal, os livros (de propaganda) da minha infância? Quem pagava os escribas? Que regime era esse, sustentado na mentira e na manipulação do ensino e da história? Contra a impostura é preciso, pois, escrever. Escrever sempre. Como sublinhava o grande George Orwell, “Escrevo porque há uma injustiça que merece ser denunciada, uma mentira que tem de ser desmascarada”. Leiam, sem tardança, este texto (que vos trago hoje) de Heitor de Paola, consagrado intelectual brasileiro, comentando o fundamentado documento jurídico que os Deputados do Chile aprovaram no dia 23 de Agosto de 1973, vinte dias antes da queda de Allende, desejada pelo povo e pelos poderes legalmente constituídos e usurpados

Nos meus tempos da escola primária, Allende, ao lado de outros cândidos e célebres “revolucionários”, era glorificado ao máximo, elevado aos píncaros do heroísmo e da rectidão moral. A atmosfera era comovente. Allende personificava a República, o Direito incorruptível, o Progresso e a Liberdade do Chile democrático. Salvador Allende, o pobre “estadista” traído, alimentava, na plenitude, o mito do bom revolucionário, derrubado pela perversa conspiração imperialista, não faltando, nessa bela história da carochinha, os condimentos favoritos da “agitprop”, desde a cobiça do “grande capital” à indispensável intervenção da CIA, passando pelos maquiavélicos e obscuros golpes palacianos. O rendilhado era perfeito.
Era assim, nas vestes de um impoluto homem de Estado, que ele aparecia nos livros oficiais. Um democrata convicto; homem puro; apóstolo da justiça.
Que pena! Hoje, ao procurar a verdade do conturbado Chile dos anos 70, época da minha doce infância, descubro, surpreendentemente, um outro Allende. Tão longe do seu retrato utópico. Salvador Allende era, na realidade, um ditador de carteirinha, mesquinho, como todos os outros, sectário, inebriado pelos dogmas marxistas, violador contumaz da Constituição, consumido pela paixão (ou loucura) totalitária, enquanto o seu país, exausto e miserável, se afundava no pântano da tirania e da bancarrota económica.
Era mentira. Era tudo mentira. Allende não era democrata. Nem amava, tampouco, a República e a legalidade. Operava, abertamente, isso sim, contra os fundamentos da tradição republicana.
Estava a destruir, e não a construir, a democracia chilena, apoiando grupos armados, ilegítimos e terroristas, que amedrontavam as populações. Desrespeitava o Poder Judiciário. Zombava do órgão Legislativo, usurpando os seus poderes legais. Dotou-se, aliás, de um poder legislativo paralelo, num processo típico do “cesarismo” autoritário.
Preparava-se assim, à semelhança do “tirano-ssauro” Fidel Castro, para açambarcar o poder total e absoluto. Allende, ao contrário de uma mentirinha jeitosa e convencional, nunca teve o apoio da maioria do povo chileno. Ainda há dias, um conhecido “opinion maker” português, levado pela modinha esquerdista, caiu nessa balela de encantar, para gáudio da viciosa turma dos inocentes úteis! Allende teve somente 36% dos votos. Mais de 60% dos eleitores chilenos rejeitaram a sua candidatura, votando nos outros partidos (Partido Nacional, de Jorge Alessandri, e PDC).
Como não teve a maioria suficiente, teve de sujeitar-se à aprovação do Congresso. Em contrapartida, foi obrigado, solenemente, a assinar um documento fundamental, o Estatuto de Garantias Constitucionais, jurando respeitar as leis e a Constituição. Assinou o documento no dia 24 de Outubro de 1970. Vinculou-se à Magna Carta.
Começa, aqui, o intenso jogo fraudulento do senhor Allende. Mal acaba de assumir o poder, confessa, numa entrevista ao insuspeito Régis Debray (publicada na revista Punto Final), que assinou o Estatuto por razões meramente tácticas. O seu objectivo principal era tomar o poder.
Isso revela que Allende não passava de um sujeito sem escrúpulos, um homem que jurava sob reserva mental, um deficiente moral, influenciado pelas teses espúrias do comunismo totalitário (ver, a respeito, Claudio Andrés Téllez, “Pinochet e o Chile”, midiasemmascara.org). Tal como Lenine, a legalidade instituída não tinha qualquer valor para ele. Só importava o projecto pessoal de poder. Ao mesmo tempo, Allende declarou, desde o início, que não representava todos os chilenos, mostrando a sua face sectária e antidemocrática.
Como perguntou Claudio Téllez, “O que resta da política sem a representação?”. Após uma série impressionante de desvios e ilegalidades, o Supremo Tribunal do Chile, por unanimidade, condenou as suas acções e exigiu a reposição dos direitos fundamentais e da legalidade constitucional. Allende fazia-se de parvo e continuava a sua marcha indelével em direcção ao totalitarismo marxista.
Foi então que a Câmara dos Deputados do Chile, por ampla maioria, produziu um documento importantíssimo, pedindo ao Exército, como “ultima ratio”, para repor a ordem constitucional, evitando a anarquia e a decadência económica do Chile. Allende governava segundo o seu capricho, cavando um cipoal de miséria e arbítrio. Instalara uma rebelião, contra os princípios da Constituição que tinha jurado defender. Baniu a liberdade de imprensa e a autonomia universitária.
Recusou-se, até, a promulgar leis legítimas aprovadas pelo poder legislativo. Era pesporrência sem limites. Desde o nascimento do Estado moderno, isso é motivo para se exercer o consabido “direito de resistência”. O artigo 3.º da Constituição chilena admitia, no fundo, esta possibilidade, ao abordar o tema da “rebelião”, sempre que o Governo assumisse poderes que não lhe foram concedidos pela Nação, portadora exclusiva da Soberania.
Por muito que isto custe às viúvas do socialismo totalitário, a verdade não pode ser apagada para todo o sempre. Um dia ela aparece, iluminando a história e os homens.
Quem escrevia, afinal, os livros (de propaganda) da minha infância? Quem pagava os escribas? Que regime era esse, sustentado na mentira e na manipulação do ensino e da história?
Contra a impostura é preciso, pois, escrever. Escrever sempre. Como sublinhava o grande George Orwell, “Escrevo porque há uma injustiça que merece ser denunciada, uma mentira que tem de ser desmascarada”.
Leiam, sem tardança, este texto (que vos trago hoje) de Heitor de Paola, consagrado intelectual brasileiro, comentando o fundamentado documento jurídico que os Deputados do Chile aprovaram no dia 23 de Agosto de 1973, vinte dias antes da queda de Allende, desejada pelo povo e pelos poderes legalmente constituídos e usurpados.
O Chile inverteu a marcha. Agora, após a feitura de avisadas reformas, é o país mais bem sucedido da América Latina. Não falarei, todavia, do regime de Pinochet. De qualquer modo, quem quiser pode consultar os meus artigos “Pinochet e a sublime hipocrisia mediática” e “Janer Cristaldo: vacina contra a impostura”, ambos disponíveis, penso, no arquivo deste jornal electrónico. Não há mais nada a dizer, para além do que aí foi dito.
A linha coerente dos dois apontamentos calou, por inteiro, a “intelectuária” mais atrevida, a qual não ousou, apesar do seu evidente desagrado, qualquer “desmentido” ou artigo de opinião (que se veja, de cara descoberta!) em contrário. Contra factos...
Como sempre, adapto a grafia ao modelo linguístico vigente em Cabo Verde, sem beliscar, contudo, o discurso original, disponível, para quem queira, em www.midiasemmascara.org
A partir de agora, toda e qualquer ignorância é grosseira e injustificável.

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Jurista e Docente Universitário

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