PINOCHET E A SUBLIME HIPOCRISIA MEDIÁTICA
Pinochet teve, portanto, esse lado mau,
reprovável, que não merece absolvição, de forma alguma, nem tampouco
aplausos. Não há boas ditaduras. Ele teve, porém, a coragem, pouco
antes de morrer, de reconhecer, publicamente, os seus erros políticos,
coisa que muitos ditadores nunca fazem. Pensemos, por exemplo, nos
nossos ditadorzecos domésticos, com aquela pose falsificada de
“estadistas”...
De repente, numa vaga de indignação moral
virtuosa, a “consciência” mundial despertou-se. É o pandemónio.
Pinochet, o velho general chileno que derrubou Allende, em 1973, é o
alvo de todas as críticas, das mais fortes condenações, como se fosse o
maior tirano de todos os tempos.
Pinochet é o alvo de todas as queixas dos
colectivistas ofendidos. De todas as imprecações e lamentações.
Jeremias ressuscitado? Não, claro que não. O assunto é outro. É apenas
o espectáculo sórdido dos herdeiros do estalinismo, que confundem
Justiça, a nobilíssima arte de atribuir “a cada um o que é seu”, com a
imposição mediática de uma “agenda” mesquinha e das suas preferências
ideológicas, o dogmatismo puro e duro.
Vejamos com clareza. Quem foi Pinochet? Foi um
ditador militar. Violou, gravemente, os direitos humanos no Chile. O
seu regime torturou e matou muita gente (cerca de 3000 pessoas,
incluindo a “Operação Condor”). Perseguiu os opositores e cometeu
muitos erros.
Não há nada que possa desculpar os crimes de
Pinochet. Da minha parte, já o tinha sublinhado, alto e bom som, há uns
tempos, num artigo de opinião publicado no “Expresso das Ilhas”. Mesmo
que ele tivesse morto um único indivíduo, seria igualmente censurável,
caso o tivesse feito injustamente. Não se pode tolerar o abuso.
O julgamento moral é implacável. Não aceita
relativismos de circunstância. Pinochet teve, portanto, esse lado mau,
reprovável, que não merece absolvição, de forma alguma, nem tampouco
aplausos. Não há boas ditaduras.
Ele teve, porém, a coragem, pouco antes de
morrer, de reconhecer, publicamente, os seus erros políticos, coisa que
muitos ditadores nunca fazem. Pensemos, por exemplo, nos nossos
ditadorzecos domésticos, com aquela pose falsificada de “estadistas”...
Mas o velho general teve, também, o seu lado
positivo, um legado interessante, que a pantomima mediática, num torpe
carnaval de mentiras, eivado de interesses inconfessáveis, quer fazer
esquecer. A todo o custo, vá-se lá saber porquê!
Pinochet, ao derrubar um regime político
decadente (sim, o de Salvador Allende – ver, sobre isso, o brilhante
artigo de Claudio Andrés Téllez, “Pinochet e o Chile”, em www.midiasemmascara.org;
ver também, no mesmo jornal, o elucidativo apontamento de Cândido
Prunes, “Augusto Pinochet, Getúlio Vargas & Cia”), fez importantes
reformas económicas, que lançaram o Chile num período de grande
crescimento e prosperidade.
Allende criara, recorde-se, um cipoal de
miséria, desorganização administrativa e desemprego, na senda do seu
inconsequente programa socialista e das alucinantes nacionalizações. A
economia chilena, com Allende, estava a seguir os mesmos passos que a
China de Mao Tsé Tung ou o Camboja de Pol Pot. Isto é: o desastre
económico. Caminhava-se, a passos largos, para o subdesenvolvimento. A
nação já não aguentava.
MUDA-SE O REGIME…
Pinochet, influenciado pelos “Chicago boys”,
alunos de Milton Friedman, apostou na iniciativa privada, deu espaço
aos investimentos estrangeiros. E o Chile ganhou imenso. Antecipou, no
fundo, a política híbrida de Deng Xiaoping. A China, após as reformas
económicas liberais, cresce, como se sabe, a um rítmo bastante
acelerado.
A sua fórmula foi: ditadura política e abertura
económica. Deu certo e levou o Chile à plena democracia política. O
mesmo sucedeu na Espanha de Franco; a Espanha é o que é hoje.
Para um grande cientista político, Seymour Lipset, a solidez económica é um pilar fundamental do sistema político democrático.
Pinochet sabia que ia ser assim. Podia ter
fechado, se quisesse, a economia, mantendo-se por muito tempo no poder,
à custa da miséria e ignorância do seu povo. Podia ter seguido a
tradição antieconómica do “caudilhismo” latino.
Mas optou pela via contrária. Investiu na
produtividade. Recuperou o trilho dos déspotas iluminados, à mistura
com o liberalismo económico; deu espaço aos empresários; disciplinou as
contas do Estado. Pinochet foi, em certa medida, um mandarim-tipo
comprometido com a criação de riqueza.
Chile é, hoje, uma nação moderna, altamente
educada, com um excelente nível de rendimento; o país mais bem sucedido
e com menos desigualdades na América Latina.
Chile é um país livre e democrático. Neste
sentido, Pinochet foi um homem com visão de futuro e deu um grande
contributo ao seu país. É um facto. Os marxistas deviam reconhecer este
ponto. Não foi Marx quem disse que “a base económica determina a
superestrutura”?
Como é que os nossos “moralistas”, que se dizem amantes incondicionais da Justiça, não reconhecem isso? A explicação é simples.
Na verdade, trata-se de um moralismo (mediático)
sem qualquer Moral. Um oportunismo político de meia pataca. Qual é o
critério para condenar Pinochet? É um critério de natureza ética: os
direitos humanos. As liberdades políticas. A ideia é proteger a
dignidade humana.
Ora, o regime comunista do senhor Fidel Castro,
ditador paternalista que governa sem o consentimento popular, pois não
realiza eleições há meio século, matou muito mais ainda.
Tortura os opositores políticos, persegue
escritores e poetas cubanos, não admite a liberdade de imprensa,
açambarca todos os poderes, lança os dissidentes na prisão, sob as
condições mais pungentes e desumanas. E deixa Cuba numa miséria
lamentável, numa ditadura tão grotesca, no atraso tecnológico e na
bancarrota económica, apesar da sua piedosa litania “progressista”.
No entanto, não merece condenação internacional
que se veja, muito menos esse coro barulhento e reprovador das ONGs e
dos defensores dos direitos humanos. Que se passa? Pinochet é um
irremediável “fascista”. Fidel é um “herói revolucionário”, paparicado,
sem o mais leve sentido crítico, nas conferências dos países
“não-alinhados”, eleito até, com louvor, para a Comissão dos Direitos
Humanos da ONU! Algo não bate certo. Fuzilar dissidentes políticos em
massa tem alguma coisa a ver com dignidade humana? Tem, para os
inocentes úteis!
E os nossos “moralistas” unilaterais - o que
são? Carrascos de circo. Porque seleccionam as vítimas,
meticulosamente. Os massacrados por Fidel, Estaline ou Pol Pot são as
“boas vítimas”. Não contam. Os que apodrecem, injustamente, nas prisões
de Havana não fazem parte da humanidade. Não merecem qualquer defesa. O
compromisso “ético” dos nossos sublimes carrascos não é, por
conseguinte, com a Justiça; nem com os direitos civis. É com a
parcialidade criminosa, que absolve, num estranho juízo moral, certos
criminosos políticos, que até são os piores, enquanto condena outros,
igualmente reprováveis, mas com menos culpa no cartório notarial da
história. Não fosse essa bovina incoerência moral, muitos analistas já
teriam evaporado, por mau uso do raciocínio lógico.
A hipocrisia é, para muitos, o elixir da longa
marcha da desinformação. Facilita a propaganda totalitária. É o orgasmo
utópico, de alta intensidade, que substitui a realidade e ameniza,
senão justifica, a barbárie socialista dos kamaradas de todas as
latitudes.
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