GLOBALIZAÇÃO, COMPETITIVIDADE E MUDANÇA SOCIAL*
O que conta é, sim, a frenética propaganda, para inglês ver!
O sinal mais incrível dessa pesporrência governativa veio dos Mosteiros:
inauguração de um tal “centro de protecção civil”, a cargo do mestre-sala Júlio
Correia, secundado pelas araracangas locais do Partido. A coisa foi tão
escandalosa que nem sequer foi dita uma única palavra acerca do conteúdo do
“centro”. Para que serve, afinal? Vai operar com que meios?
Um dos temas mais burilados dos últimos anos é, justamente,
a globalização. Para uns, é o monstro, a encarnação diabólica do “capitalismo
selvagem” e do pior individualismo possível. Para outros, porém, é uma
oportunidade, uma janela de novas tecnologias, criação de empregos e
prosperidade. O facto, indiscutível, é que a actual globalização veio para
ficar, como no-lo revela Thomas Friedman num livro refrescante e singular
(“Compreender a globalização: entre o lexus e a oliveira”). A globalização, ao
contrário da sabedoria comum, não é uma situação transitória. Não. É o nosso
mundo e veio substituir, com o peso das suas estruturas, o mundo “antigo” da
Guerra-Fria. Nenhum país pode renegá-la sem custos sociais e económicos
consideráveis.
É um processo que não dispensa a acção esclarecida do
Estado. Requer, aliás, múltiplas reformas e a construção de uma Administração
transparente e eficaz. Francis Fukuyama, por seu turno, escreveu um livrinho
brilhante acerca da “Construção de Estados”, editado pela Gradiva em 2006.
No livro de Friedman o debate acerca da democratização
adquire um lugar de destaque. Cabo Verde, a partir da década de 90, fez algumas
reformas decisivas para não perder o comboio. Mas ainda há muito por fazer. É
preciso investir mais, e melhor, nos recursos humanos. Não é por acaso que, de
2001 a esta parte, o nosso país desceu várias posições no índice anual do PNUD
que avalia o Desenvolvimento. É algo lamentável. O Estado precisa também de
reformas. Basta ver a posição que Cabo Verde ocupa no índice deste ano (2007) da
Heritage Foundation: 88.º lugar. Isto significa que Cabo Verde está, mau grado a
ladainha oficial, atolado na burocracia e no ritual da papelada estatizante.
Infelizmente, a imprensa doméstica não fala dessas coisas.
(Sobre o panorama vigente na RTC, veja-se um notável artigo – “RTC: servidão
pública ou partidária?” do deputado Humberto Cardoso, publicado, esta semana, no
seu blog pessoal: www.emcima.blogspot.com).
O que conta é, sim, a frenética propaganda, para inglês
ver! O sinal mais incrível dessa pesporrência governativa veio dos Mosteiros:
inauguração de um tal “centro de protecção civil”, a cargo do mestre-sala Júlio
Correia, secundado pelas araracangas locais do Partido. A coisa foi tão
escandalosa que nem sequer foi dita uma única palavra acerca do conteúdo do
“centro”. Para que serve, afinal? Vai operar com que meios? Recorde-se que o
concelho dos Mosteiros foi fustigado por um violento incêndio (no perímetro
florestal de Monte Velha) ante a total passividade das “autoridades”. O novo
“centro” está preparado para fazer face a essas ocorrências? Parece que não. É
mais fachada do que outra coisa e, sobretudo, mais um espaço do estilo “job for
the boys”. Além disso, há uma contradição insanável: uns metros à frente do dito
“centro” (que mais não é do que o antigo edifício administrativo do velho
aeródromo), encontram-se montículos de areia, num autêntico atentado ao meio
ambiente e a essa infra-estrutura tão simbólica que é (ou foi!) o aeródromo dos
Mosteiros. Câmara Municipal, Governo, ninguém faz nada, sublinhe-se, para deter
a sanha destruidora do ambiente, precisamente no perímetro do centro de
“protecção” civil! O rei vai nu; e o senhor Júlio Correia, algo tagarela e
“policialesco”, não deu por isso!
Que raio de “protecção” civil é essa que permite a mais
flagrante destruição do aeródromo e do ambiente circundante? Os títeres da
propaganda lá saberão explicar essa patética incongruência.
Uma verdadeira “protecção civil” nos Mosteiros deve,
necessariamente, equacionar a reabertura do aeródromo, aliás uma promessa do
senhor José Neves, desde 2001. Sendo a ilha do Fogo um sítio de alto risco, por
causa do seu vulcão, faz todo o sentido pensar numa pista alternativa, com as
condições minimamente necessárias. Fogo, em geral, ressente-se da filosofia
centralizadora do actual Governo.
Em 1991, num gesto formidável, o MpD criou o concelho dos
Mosteiros, após 15 anos de uma ditadura míope e despreocupada. Telefone, luz,
água, paços do concelho, liceu, médico residente, etc., foram alguns resultados
dessa visão ousada do Dr. Carlos Veiga. Infelizmente, o ritmo abrandou. Aliás em
todo o país.
Só para se ter uma ideia, já em 2005, a ilha Maurícia,
situada na costa oriental africana, preparava-se para ser o primeiro local do
mundo com total cobertura de Internet sem fios (“wi-fi”). Compare-se com o
panorama desolador de Cabo Verde, mesmo em 2007! Na reportagem, publicada no
Courrier Internacional, afirma-se, claramente, que “o Governo [da Maurícia]
procura alternativas à economia tradicional”. Desnecessário é discorrer sobre as
tremendas vantagens (económicas, sociais e culturais) advenientes dessa inovação
tecnológica.
“A nossa visão é transformar a Maurícia numa ciber-ilha”,
afirmou o Ministro da Tecnologia desse país. Gigantes mundiais como a Microsoft,
Oracle e Accenture investiram na Maurícia, criando milhares de postos de
trabalho. Isto desde 2003. Em Cabo Verde…Bem, sempre temos o nosso
Governo-propaganda e a sua máquina bem equipada!
Vou deixar-vos, neste ponto, com um link do Mídia Sem
Máscara, onde poderão ler um belo artigo de João Luiz Mauad, acerca da
social-democracia, globalização e pressão tecnológica. É um texto lúcido e
estimulante, podendo ser uma pista, salvo erro, para futuras reflexões: www.midiasemmascara.org/artigo.php?sid=5878&language=pt
Não deixe de ler também, caro amigo, um elucidativo texto
sobre as práticas do ditador venezuelano Hugo Chávez. O autor é o já nosso
conhecido Alejandro Esclusa, muito instrutivo no contexto das novas “democracias
de fachada”. Confira tudo em: www.midiasemmascara.org/artigo.php?sid=5992&language=pt
P.S.: Um jurista de prosa confusa resolveu voltar à carga,
exigindo, quase, e mais uma vez, a “prescrição” dos crimes cometidos pelo
“Príncipe” desta Republiqueta das bananas. Eis a Neveslândia: um carrocel de
truques e malabarismos!
Da minha parte, curvo-me, humildemente, perante os
“grandes” deste mundo, os “figurões”, os mestres, os artistas das leis, aqueles
que, com todas as Luzes da cátedra, sabem justificar a mais medonha podridão
vigente. Sim, tenho fé, um dia serei “alguém”! E defenderei, com a devida
truculência legalista, os proxenetas, os falsificadores de atestados médicos, os
ditadores de carteirinha, os pedófilos, os labregos da fraude eleitoral, os
corruptos e corruptores, a corja instalada, os sicofantas, e tutti quanti! Um
dia, refestelado no deboche geral, farei fortuna e receberei todos os aplausos
deste mundo. Um dia serei “alguém”! E saberei, enfim, que a Cidadania e a
Justiça são meras velharias, sem cotação na Bolsa dos Valores.
Sim, entrarei, com a máxima sapiência, na onda dos Eleitos
do Sol. “Mestres”, ao que parece, não faltam por aí…
*Para Carlos Miguel, meu amigo
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