A REVOLUÇÃO LÍBIA & A HIPOCRISIA DA “PIRESTROIKA”
A África mostrou-se no seu pior, associando-se a uma figura
medíocre que prega o culto de personalidade e defende a corrupção como sistema
de governo ...
O que existe de comum entre Lubna Ahmed Hussein e Pedro
Pires? Tudo.
Ambos caíram na rede do fundamentalismo
islâmico.
A primeira, uma senhora corajosa, por ter desafiado uma
“lei”* fanática que pune o uso de calças femininas com chicotadas; o segundo,
por se entregar, de corpo e alma, aos rituais de uma patética “revolução”
liderada por um velho terrorista, Muamar Khadafi, cultor incansável do
“não-alinhamento” e da doutrina do subdesenvolvimento.
O rei Kadhafi (o socialismo é, por definição, um regime
dinástico), no poder desde 1969, devidamente acompanhado pelo sr. Hugo Chávez, o
chefete da Venezuela, preparou uma festa de arromba para celebrar mais um
aniversário da fundação da Líbia “progressista”, atraindo, logicamente, alguns
convidados e certos “compagnons de route”. Um primor!
A África mostrou-se no seu pior, associando-se a uma figura
medíocre que prega o culto de personalidade e defende a corrupção como sistema
de governo (Khadafi possui, por graça de Alá, aviões particulares e tudo o
resto!).
Avisadamente, os dirigentes ocidentais não participaram
nessa comédia “pro forma”...
Paul Berman, num livro exemplar (Terror and Liberalism, W.
W. Norton, New York, 2002), já fez o mapeamento das origens filosóficas e
literárias da ameaça islâmica, com os seus avatares de loucura e utopismo
incendiário.
Ditadura, controlo da imprensa, supressão do pluralismo e
nacionalismo subversivo são os condimentos adicionais desse totalitarismo
tardio. O “software” de uma sociedade repressiva e intolerante.
Após ter apoiado, num passado recente, o Stalin das
Caraíbas, Fidel Castro de sua graça, Pires junta-se, agora, ao rei absoluto de
Tripoli, num gesto político tão eloquente quão incompreensível. Cabo Verde não
ganha nada com isso. Merecíamos melhor...
Mas nem tudo está perdido: aí vem, a galope, 2011, e um
homem capaz de restituir a diplomacia cabo-verdiana aos limites da Constituição
e da decência.
Aí vem, sereno e tranquilo, um verdadeiro Provedor de
Cidadania, um defensor convicto da Ética Pública. “Sapere aude”,
evidentemente.
Com ele, ninguém duvida, o País deixará de afagar tiranos e
tiranetes, recuperando, assim, a dignidade perdida e os valores da Liberdade e
Democracia, os quais se afirmarão, com galhardia, alto e bom som, em qualquer
palco internacional e, naturalmente, em todas as organizações de interesses de
que Cabo Verde faça parte.
Jorge Carlos de Almeida Fonseca – por mais dissabores que
isto cause à Confraria Totalitária!
* Lubna, talvez sem o saber, reedita uma velha luta, a luta
pela Justiça, admiravelmente retratada numa peça de Sófocles – Antígona, em que
a personagem central resiste à tirania de Creonte com base numa lei (não
escrita) superior ao capricho dos homens.
A acção da jornalista sudanesa é, toda ela, pedagogia
cívica: acima dos poderes de plantão, existe, soberana, a Dignidade Humana,
valor universal e padrão de validade de todos os actos do Estado e das
instituições sociais.
Lubna, apelando assim à ideia última de Justiça, deixa os
seus algozes sem qualquer defesa, entregues à orgia de uma legalidade sem
legitimidade.
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