domingo, 13 de setembro de 2009

A REVOLUÇÃO LÍBIA & A HIPOCRISIA DA “PIRESTROIKA”

A África mostrou-se no seu pior, associando-se a uma figura medíocre que prega o culto de personalidade e defende a corrupção como sistema de governo ...

O que existe de comum entre Lubna Ahmed Hussein e Pedro Pires? Tudo.

Ambos caíram na rede do fundamentalismo islâmico.

A primeira, uma senhora corajosa, por ter desafiado uma “lei”* fanática que pune o uso de calças femininas com chicotadas; o segundo, por se entregar, de corpo e alma, aos rituais de uma patética “revolução” liderada por um velho terrorista, Muamar Khadafi, cultor incansável do “não-alinhamento” e da doutrina do subdesenvolvimento.

O rei Kadhafi (o socialismo é, por definição, um regime dinástico), no poder desde 1969, devidamente acompanhado pelo sr. Hugo Chávez, o chefete da Venezuela, preparou uma festa de arromba para celebrar mais um aniversário da fundação da Líbia “progressista”, atraindo, logicamente, alguns convidados e certos “compagnons de route”. Um primor!

A África mostrou-se no seu pior, associando-se a uma figura medíocre que prega o culto de personalidade e defende a corrupção como sistema de governo (Khadafi possui, por graça de Alá, aviões particulares e tudo o resto!).

Avisadamente, os dirigentes ocidentais não participaram nessa comédia “pro forma”...

Paul Berman, num livro exemplar (Terror and Liberalism, W. W. Norton, New York, 2002), já fez o mapeamento das origens filosóficas e literárias da ameaça islâmica, com os seus avatares de loucura e utopismo incendiário.

Ditadura, controlo da imprensa, supressão do pluralismo e nacionalismo subversivo são os condimentos adicionais desse totalitarismo tardio. O “software” de uma sociedade repressiva e intolerante.

Após ter apoiado, num passado recente, o Stalin das Caraíbas, Fidel Castro de sua graça, Pires junta-se, agora, ao rei absoluto de Tripoli, num gesto político tão eloquente quão incompreensível. Cabo Verde não ganha nada com isso. Merecíamos melhor...

Mas nem tudo está perdido: aí vem, a galope, 2011, e um homem capaz de restituir a diplomacia cabo-verdiana aos limites da Constituição e da decência.

Aí vem, sereno e tranquilo, um verdadeiro Provedor de Cidadania, um defensor convicto da Ética Pública. “Sapere aude”, evidentemente.

Com ele, ninguém duvida, o País deixará de afagar tiranos e tiranetes, recuperando, assim, a dignidade perdida e os valores da Liberdade e Democracia, os quais se afirmarão, com galhardia, alto e bom som, em qualquer palco internacional e, naturalmente, em todas as organizações de interesses de que Cabo Verde faça parte.

Jorge Carlos de Almeida Fonseca – por mais dissabores que isto cause à Confraria Totalitária!



* Lubna, talvez sem o saber, reedita uma velha luta, a luta pela Justiça, admiravelmente retratada numa peça de Sófocles – Antígona, em que a personagem central resiste à tirania de Creonte com base numa lei (não escrita) superior ao capricho dos homens.
A acção da jornalista sudanesa é, toda ela, pedagogia cívica: acima dos poderes de plantão, existe, soberana, a Dignidade Humana, valor universal e padrão de validade de todos os actos do Estado e das instituições sociais.
Lubna, apelando assim à ideia última de Justiça, deixa os seus algozes sem qualquer defesa, entregues à orgia de uma legalidade sem legitimidade.

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Jurista e Docente Universitário

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