DO “BOM GOVERNO” E OUTRAS MILAGROSAS FANTASIAS!
Ora, um Governo que possui, no seu seio, um “fugitivo” que
falsificou, de uma assentada, 17 atestados médicos, uma “Ministra” da Justiça
que foi um dos participantes no escândalo do “saco azul” e um Primeiro-Ministro
que - qual Átila supra-constitucional! - nunca respondeu pelos crimes que
cometeu, no dia 22/01/2006, está nos antípodas da boa governação e não pode, de
forma alguma, ser qualificado como “exemplo” de coisa nenhuma; não confundamos,
pois, democracia com “bandocracia”
A dra. Janira, respeitável “porta-voz” do Governo, não
perdeu tempo.
Pegou, com cuidado, no “estudo” do E-Parliament e
esclareceu, então, a opinião pública acerca da “boa governação” e – vá lá! -
outros tópicos políticos exaltantes, tão do agrado do “bom Governo” do dr. José
Maria Neves e dos respectivos escritórios de propaganda...
Com palavras palpitantes, a inefável dra. e “porta-voz”
elogiou o processo eleitoral e reafirmou, sem pestanejar, a confiança do Governo
no reforço da democracia e da – vá lá! - “boa governação” crioula!
Foi uma jornada interessantíssima, não fosse o esquecimento
(premeditado?) de algumas verdades subtis.
Vamos lá ver, no essencial, o que ficou por
dizer:
1) A democracia não se confunde com eleições (Cuba também
faz eleições, pretensamente exemplares e muito “democráticas”, como todos
sabemos...) nem, tampouco, com a simples “rotatividade” do poder executivo. A
essência da democracia, enquanto sistema político, está, antes disso, no
respeito pela dignidade humana e no bom funcionamento da Justiça. Ora, um
Governo que possui, no seu seio, um “fugitivo” que falsificou, de uma assentada,
17 atestados médicos, uma “Ministra” da Justiça que foi um dos participantes no
escândalo do “saco azul” e um Primeiro-Ministro que - qual Átila
supra-constitucional! - nunca respondeu pelos crimes que cometeu, no dia
22/01/2006, está nos antípodas da boa governação e não pode, de forma alguma,
ser qualificado como “exemplo” de coisa nenhuma; não confundamos, pois,
democracia com “bandocracia”;
2) Um Governo que permite, através de políticas económicas
erradas e faltando ao prometido no seu Programa de Legislatura, que o desemprego
atinja 22% da sua população (níveis próximos da Grande Depressão de 1929) é um
Governo que, de “boa governação”, tem o mesmo que a Coreia do Norte tem em
termos de liberdade e democracia: isto é, ZERO, por mais que os escritórios de
propaganda queiram cunhar outras “verdades” de ficção;
3) A maioria não é critério da verdade e, muitas vezes,
decide de forma arbitrária. Hans Kelsen, numa passagem notável sobre a ideia de
democracia e a questão dos valores, recordou-nos isso mesmo, lembrando,
precisamente, um dos episódios mais belos e trágicos da História das
Civilizações. Posso resumir-vos o “status quaestionis” com palavras simples:
Cristo é preso e entregue ao Sinédrio. Pilatos, o astuto magistrado romano,
“lava as suas mãos” e, em vez de decidir o caso, entrega o veredicto à multidão.
Que faz a multidão? Manda soltar Barrabás e condena Jesus Cristo. “Mas Barrabás
era um ladrão!”, exclama, perplexo, Kelsen. Pois era! Mas foi o “escolhido” da
maioria.
Quando é que discutiremos os valores e a justiça em Cabo
Verde com a devida seriedade?
Quando é que deixaremos de cobrir a Verdade com o manto
indigno da corrupção e da desinformação?
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