"BLOGMANIA" E DEZINFORMATSYA
De qualquer modo (sublinhando, mais uma vez, a truculência
de Paulino Dias, ao cuspir uma frase que ele próprio forjou), direi o seguinte:
se o mundo discute, hoje, temas essenciais como a democracia, Constituição,
"judicial review", liberdade individual, descentralização política, sociedade
civil, "accountability", etc., fá-lo, em larga medida, por impulso da pátria de
Thomas Jefferson, a qual, em pleno século XVIII, construiu a primeira República
democrática dos tempos modernos e, até hoje, a economia mais próspera na
história da humanidade
Por insistência de um amigo, entrei no "blog do Paulino"
(www.blogdopaulino.blogspot.com), onde o meu nome, avisara-me o simpático
confrade, andava a circular ao desbarato.
Entrei. Percebi, imediatamente, que o espaço é
intelectualmente pobre, "naif", preenchido por desabafos e cansativos
lugares-comuns, mas, sobretudo, que o "bloguezinho" (como se autodefine) é
francamente idiota e confuso.
Quereis um exemplo de pura idiotice? Pois, logo no início,
em jeito de "aperitivo" dos deuses, o sr. Paulino Dias escreve esta preciosidade
rara: "Um bloguezinho despretensioso e intimista, apenas para saciar meu vício
de escrever. Aviso aos navegantes: não há uma linha pré-definida para este blog,
é mais ao 'sabor da corrente'" (fim de citação).
A frase é, do ponto vista lógico, tão esdrúxula, tão
hilariante, que mais parece ter saído da cachola privilegiada de um analfabeto
funcional, ou de alguém sob o efeito iluminante de uma substância
"relaxante".
Ora, como "não há uma linha pré-definida" se o cavalheiro
já garantiu, antes, que o seu blog é "despretensioso e intimista"?! O sujeito
não percebe que, ao traçar esta divisória, estabeleceu já uma "linha", um
conjunto de orientações, tais como a informalidade, o triunfo da linguagem
coloquial, o subjectivismo estético, o convívio aberto, o gosto pelo lúdico, a
tolerância de "pontos de vista", a valorização de experiências singulares, etc..
Tirada deveras "inteligente": atenção, meus amigos! Aqui
não há uma linha "pré-definida", mas, pelo sim pelo não, defini previamente uma
linha! Não é giro? E ainda insinuam que o burro é o Scolari...
Para ilustrar a sua especial "indignação, comoção e
revolta" (sic), o "blogueiro" – que também é administrador da IFH e professor do
ensino superior em Cabo Verde - resolveu publicar duas fotografias que captou a
esmo na wikipédia.
Uma referente a Buchenwald (um antigo campo de concentração
nazi) e outra referente ao massacre de My Lai, durante a guerra do Vietname.
O objectivo de Paulino Dias é, à primeira vista, pedagógico
e humanitário: "Torcendo para que nunca mais voltem a acontecer!", diz ele.
Mas, se aprofundarmos um pouco mais, veremos que há muita
demagogia e desinformação atrás desses nobres propósitos "bloguísticos".
Ora, Buchenwald não foi a pior tragédia que aconteceu no
século XX. A tragédia maior do século XX foi, sim, a propagação das ideologias
totalitárias (comunismo, nazismo, fascismo), as quais, juntas, provocaram o
maior genocídio de sempre na História da humanidade, com o seu cortejo
suplementar de pobreza, caos económico e destruição cultural.
O comunismo totalitário, por exemplo, matou mais de 100
milhões de pessoas, muito mais do que o nazismo hitleriano. Mas o "blog do
Paulino" é completamente omisso quanto a isso. Nem uma vírgula, nem uma
fotografia, dando a impressão de que os campos nazis foram as maiores
carnificinas do século, quando houve outras, e bem piores.
A propaganda socialista sempre utilizou esse truque de
algibeira, facto magistralmente documentado por pensadores do calibre de um
François Furet ou Jean-François Revel.
E o caso de My Lai?
Bom, em primeiro lugar, é preciso apontar a surpreendente
mendacidade intelectual de um "professor universitário" que, para falar de um
problema tão sério e complexo, vai "pesquisar" os seus "dados" na...wikipédia! É
mais uma prova da miséria cultural engalanada que só quer viver de títulos e
fachada.
A "wikipédia", não obstante a sua popularidade, é uma
espécie de "lixeira" da Internet. Contém erros gravíssimos e patetices sem fim,
precisamente porque os respectivos "conteúdos" são escritos por pessoas comuns e
não por especialistas.
No artigo da wikipédia, onde o sr. Paulino captou a
fotografia acerca de My Lai, afirma-se, por exemplo, que esse acontecimento foi
"o maior massacre de civis durante a guerra do Vietname". Ora, só um sujeito
burro e mal informado pode aceitar um embuste dessa natureza.
My Lai foi, de facto, um erro deplorável cometido pelas
tropas dos Estados Unidos, mas não foi o único, nem o pior. Cerca de 500 civis
foram injustamente abatidos durante essa operação do exército
norte-americano.
Mas é preciso não esquecer que houve, da outra parte, algo
bem pior. O revoltado "blogueiro" já ouviu falar, por exemplo, dos milhares de
civis (católicos) assassinados, no Vietname, pelos guerrilheiros comunistas? Os
métodos utilizados foram os mais brutais.
Mas o pior massacre de civis aconteceu na cidade histórica
de Hué, tomada pelos "vietcongues". Foi uma onda de violência sem limites,
mediante a aplicação do famoso "terror revolucionário". A chacina causou cerca
de 5000 vítimas civis, dez vezes superior, portanto, ao massacre de My
Lai.
Por aqui se vê como funciona a pequena arte da
desinformação: você pega num episódio isolado, apaga, cuidadosamente, todo o
contexto, apaga, sobretudo, os crimes mais bárbaros cometidos pela "parte boa"
do conflito (neste caso, os "vietcongues", que simbolizam a santíssima
"esperança socialista") e - plim!, plim!! – está alcançada a maravilha
pseudo-moralista: o inimigo ideológico é apresentado como um criminoso sem
piedade, como o responsável, enfim, pelas piores tragédias que se abateram sobre
a pobre humanidade!
O mesmo se passa, hoje, quanto à famosa prisão de
"Guantanamo", que o engraçado sr. Paulino Dias me pede para comentar. Que dizer?
O Supremo Tribunal de Justiça (dos EUA) já se pronunciou sobre o caso, obrigando
os responsáveis a respeitar as garantias de defesa dos detidos nessa base
militar norte-americana. É uma medida judicial que aplaudo, pois representa o
triunfo da "rule of Law" e do melhor da tradição jurídica e filosófica
americana.
Mas o que preocupa certos agentes de propaganda (na
Internet) não são, na verdade, os direitos fundamentais, a dignidade humana ou
os padrões morais da civilização. Sabem porquê? Por isto: logo ali ao lado da
prisão norte-americana de Guantanamo, existe uma outra "Guantanamo", isto é, o
imenso sistema concentracionário mantido, há décadas, pelo "coma-andante" Fidel
Castro. Um sistema policial/totalitário horrível onde sucedem as sevícias mais
brutais, as violações mais primitivas e onde milhares de inocentes perderam a
vida em nome de uma patética "revolução" que só faz crescer o crime, a miséria,
o atraso tecnológico e os "boat people".
O que é que vemos neste caso? O mesmo padrão (ideológico)
filho-da-puta de sempre: um imenso coro, impaciente e indignado, pedindo o fim
do "Guantanamo de Bush" (onde, até hoje, NINGUÉM morreu, sublinhe-se) e um
silêncio miserável à volta do "Guantanamo de Fidel Castro", responsável,
todavia, pela morte de 100 000 cubanos (leu bem: cem mil), vítimas de um tirano
comunista implacável e do regime político mais sanguinário que a América Latina
produziu. Assim funciona a "guerra assimétrica". Para os nossos inimigos, todas
as culpas; para os amigos, a lisonja e a bajulação.
Voltando a Buchenwald, vale a pena lembrar que os Estados
Unidos da América tiveram um papel determinante na derrota do nazismo e na
posterior reconstrução da Europa. Sob o chapéu do "plano Marshall", muitas
nações europeias acertaram o passo com a democracia e a prosperidade económica,
varrendo as cinzas da destruição (da II Guerra Mundial) para bem longe das suas
portas. A amizade euro-atlântica garantiu a paz e cimentou uma visão estratégica
de desenvolvimento.
Não satisfeito com os seus pequenos truques de rasa
propaganda, o sr. Paulino Dias, em diálogo com um "anónimo", afirma o seguinte,
a respeito da minha pessoa: "Olha, Casimiro de Pina é um colunista do Expresso
das Ilhas e que tem uma 'paixão' ferrenha e diria até fanática pelos Estados
Unidos da América, o 'bastião da liberdade, da democracia e dos direitos
humanos', como o apelida".
Descontemos as "gaiatices" de Português ("e que tem", onde
aprendeu isto, professor?!) do sr. Paulino. Realcemos, antes, as falhas morais
do indivíduo:
Primeira mentira: não sou "colunista do Expresso das
Ilhas". Há quase um ano que deixei de o ser e, por conseguinte, de publicar
quaisquer artigos de opinião nesse jornal.
A desonestidade intelectual do sr. Paulino Dias atinge,
aliás, os píncaros da sociopatia: onde é que afirmei que os Estados Unidos da
América são o "bastião da liberdade, da democracia e dos direitos humanos"?
Nunca pronunciei uma tal frase. E desafio, desde já,
qualquer batoteiro de serviço a provar o contrário. A charlatanice é doentia.
Inventa uma frase, coloca-a entre aspas e, sem pestanejar, atribui-a ao alvo das
suas paranóias "bloguísticas". Ou seja, o sujeito mente e deixa-se, no auge do
delírio pusilânime, seduzir pela mentira "pro forma", tomando-a pela "segunda
realidade" com a qual vai preencher a sua alma vazia e mesquinha. Agindo assim,
o sr. Paulino Dias revela a sua verdadeira face, a face de um pequeno agiota
intelectual e moço de propaganda sem escrúpulos.
De qualquer modo (sublinhando, mais uma vez, a truculência
de Paulino Dias, ao cuspir uma frase que ele próprio forjou), direi o seguinte:
se o mundo discute, hoje, temas essenciais como a democracia, Constituição,
"judicial review", liberdade individual, descentralização política, sociedade
civil, "accountability", etc., fá-lo, em larga medida, por impulso da pátria de
Thomas Jefferson, a qual, em pleno século XVIII, construiu a primeira República
democrática dos tempos modernos e, até hoje, a economia mais próspera na
história da humanidade. Michael Novak, num estudo monumental, mostrou que a
própria ideia de que é possível vencer a pobreza é uma ideia americana. Foi isso
que atraiu, e ainda atrai, milhões e milhões de pobres do mundo inteiro,
inspirando, depois, as sociedades europeias, a Nova Zelândia, o Japão, etc.,
etc.. Daí a minha admiração pelos aspectos criativos (e civilizacionais) da
nação americana. Como não admirar o País que, antes de todos os outros,
estabeleceu o ensino obrigatório e gratuíto, que emancipou a mulher,
conferindo-lhe a plenitude da cidadania, que garantiu a liberdade religiosa e de
consciência em termos pioneiros, numa altura em que o mundo gemia sob as botas
do despotismo mais arcaico? A própria Internet, que permite aos papagaios de
cordel um toque ilusório de "modernidade", também é uma criação
americana.
É claro que estas coisas não se aprendem lendo "blogs"
idiotas, nem tampouco por meio de "pesquisas" rasteiras feitas, à pressa, na
wikipédia. É preciso ler (e meditar) os grandes clássicos – Tocqueville,
Hamilton, Hannah Arendt, etc. - para percebermos o grande palco da História, em
toda a sua densidade e exigência.
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