terça-feira, 4 de dezembro de 2007

DEMOCRACIA, DESINFORMAÇÃO, PLURALISMO

Hoje, trago-vos um texto interessante escrito por João Luiz Mauad, no dia 19 de Outubro deste ano. É uma análise saborosa acerca dos estranhos movimentos de Al Gore, um fulano que procura, com a cobertura da imprensa internacional, manter um inexistente "consenso" à volta do "aquecimento" global. Aí há tempos, também neste jornal, disponibilizei vários "sites" onde alguns dos mais reputados Cientistas do mundo contrariavam a lengalenga de Al Gore. É claro que essas notícias nunca passam na imprensa estatal cabo-verdiana, preocupada, aliás, com uma certa e conhecida cosmovisão ideológica.Vivemos no reino da desinformação sistemática

Um dos grandes males da democracia cabo-verdiana é a falta de pluralismo na imprensa, mormente na televisão e na rádio. O ambiente é pouco favorável ao debate e ao confronto de ideias. A nossa TCV é uma caixa de ressonância do Governo, boicotando, muitas vezes, as acções da oposição e da sociedade civil. Além disso, vigora uma tremenda falta de seriedade por parte da "tutela", que oscila entre a manipulação (veja-se o concurso fantoche na atribuição dos canais televisivos...) e a demagogia, bem ilustrada pelos "jornalistas" que o Governo pretende "formar" no prazo de um mês (em boa hora, o atento Sá Nogueira desmontou essa palhaçada, num artigo criterioso publicado neste diário digital).
A experiência de Hugo Chávez na Venezuela é um exemplo perfeito da dicotomia existente entre a Democracia e a Liberdade. São, como tenho repetido bastas vezes, conceitos distintos, convivendo numa certa tensão. Pensadores como Tocqueville, Stuart Mill ou Zakaria (mais recentemente...) nunca confundiram as duas coisas. A democracia é o apelo à soberania popular, eleições, etc. A liberdade é, sobretudo, a
garantia dos direitos fundamentais, da liberdade de imprensa e de um poder judicial independente. A fundamentação da democracia não é, pois, a mesma coisa que a fundamentação da liberdade.
(Antes de terminar, permitam-me um brevíssimo comentário sobre a candidatura de Onésimo Silveira à Câmara Municipal de São Vicente. Onésimo discursou, muito torto e tendencioso. José Maria Neves tentou passar a fatal ideia de que o senhor Onésimo é a "renovação". Ora, ninguém, muito menos o presidente do PAICV, acredita nisso. O espectáculo, com muita tagarelice à mistura, foi, por conseguinte, uma enorme farsa, pouco recomendável, porque toda a gente conhece o dito personagem. Onésimo não representa qualquer "seriedade" no espaço público nacional, por mais que se vocifere o contrário. A sua truculência é, de resto, sobejamente conhecida. Ética, José Neves?! A "ética" do doutor Onésimo caiu, infelizmente, há muito tempo. Murchou, em definitivo. Parafraseando Olavo de Carvalho, diria que não há Viagra - ainda que em doses cavalares - que possa levantá-la...).
Hoje, trago-vos um texto interessante escrito por João Luiz Mauad, no dia 19 de Outubro deste ano. É uma análise saborosa acerca dos estranhos movimentos de Al Gore, um fulano que procura, com a cobertura da imprensa internacional, manter um inexistente "consenso" à volta do "aquecimento" global. Aí há tempos, também neste jornal, disponibilizei vários "sites" onde alguns dos mais reputados Cientistas do mundo contrariavam a lengalenga de Al Gore. É claro que essas notícias nunca passam na imprensa estatal cabo-verdiana, preocupada, aliás, com uma certa e conhecida cosmovisão ideológica.Vivemos no reino da desinformação sistemática.
O texto de Mauad, publicado originalmente no Mídia Sem Máscara, intitula-se " O Triunfo do Medo". Ei-lo (a adaptação da grafia é da minha exclusiva responsabilidade):
Alguns meses depois de abocanhar um Oscar, o ex-vice-presidente norte-americano, Al Gore, foi agraciado, semana passada, com o Prémio Nobel da Paz. De acordo com os responsáveis pela escolha, "por seus esforços no combate às mudanças climáticas". Muito interessante, e sintomático, foi o facto de que, na mesma semana, o venerando máximo da religião do aquecimento global esteve nas manchetes inglesas por uma outra razão. É que a alta corte daquele país decidiu que o famigerado documentário "Uma Verdade Inconveniente" somente poderia ser exibido nas escolas britânicas com a devida explicação, prévia, de que o mesmo contém nada menos que – comprovados – "nove erros científicos". Também, segundo a referida sentença, os professores ingleses deveriam chamar a atenção dos estudantes para certos "exageros" e para o carácter "alarmista" da película.
Mas o que são meros nove erros, não é mesmo? Nada que tire a importância e a beleza de um filme que nos apresenta uma "verdade maior", qual seja: somos responsáveis pelas mudanças climáticas que destruirão o mundo, se nada for feito imediatamente. O que, afinal, representam alguns "pequenos" equívocos científicos, desde que eles estejam ao serviço de uma verdade maior? Simples acidentes de percurso, sem maiores consequências. A exemplo de vários outros veículos de imprensa, engolidos pela onda catastrofista, o Jornal do Brasil estampou a seguinte "pérola", em editorial publicado no dia 16/10: "Embora com alguma imprecisão de dados, o documentário protagonizado pelo político arrancou aplausos da crítica e fez o grande público reflectir sobre a questão ambiental. Talvez aí esteja o maior mérito de Al Gore".
Os erros – tanto factuais quanto conceituais – expostos naquela película propagandista manchariam a biografia de qualquer cientista. No entanto, Gore não é um cientista, mas um político cuja intenção não é outra senão politizar a ciência. No seu mundo, a climatologia não gira em torno da investigação, dos métodos, da experimentação, ou teste de hipóteses. Na práxis goreana, evidências empíricas ou lógicas dão lugar a (in)convenientes verdades e a estranhos consensos.
É difícil ignorar um forte apelo moral nos discursos de Al Gore. A exemplo de um certo líder tupiniquim, ele jamais perde uma oportunidade que seja para vender ao público a sua autoproclamada vocação de grande guia dos povos. A sua cruzada, segundo ele mesmo, está voltada a prevenir uma catástrofe global, que, por sua vez, é sustentada por verdades irrefutáveis, as quais lhe foram "reveladas", não por entidades supranaturais, mas por um pretenso consenso científico. Os seus ataques incessantes contra os chamados "cépticos" se devem justamente à necessidade de afirmar este famigerado consenso.
Assim, a investigação científica, cujo pressuposto básico é – ou pelo menos deveria ser – a própria dúvida, e nunca a certeza, acaba transformando-se num dogma espiritual. Na religião deste verdadeiro profeta do medo só há espaço para o bem e para o mal, para o comportamento "virtuoso" dos engajados ou "vicioso" dos cépticos.
Num mundo onde a razão foi sequestrada pela paranóia e o apocalipse nos é vendido como iminente, nada mais natural que a busca desesperada por heróis, salvadores da humanidade, líderes espirituais que nos guiarão e protegerão das intempéries provocadas pela nossa própria ganância. Mas isso só não basta. A humanidade está em guerra e, como é natural em tempos de guerra, todo o poder e dinheiro deverão ser entregues aos Leviatãs, sem esquecer que, neste caso, como o inimigo é comum a todos, a grande divindade mística, a suprema burocracia supranacional, será chamada a descer do Olimpo, às margens do Rio Hudson, para liderar as forças nacionais rumo à vitória final.
O mais estúpido desse prémio, no entanto, não é tê-lo concedido a um animador de auditórios, mascate de uma "verdade" muito conveniente (para alguns) e nada científica, mas, como bem frisou o Wall Street Journal, preterir alguns personagens cujas causas são muito mais importantes e urgentes, e cujo mérito [das respectivas acções] é inquestionável – pelo menos para os amantes da liberdade.
Eis uma pequena lista de alguns destes homens e mulheres, preparada pelo WSJ:
- Os monges budistas de Myanmar, recentemente brutalizados pela junta militar que governa aquele país há anos, em razão de suas acções em defesa da liberdade e da democracia;
- Morgan Tsvangiari, Arthur Mutambara e outros líderes oposicionistas do Zimbabwe, presos e espancados, no início do ano, pela polícia política do ditador Robert Mugabe;
- Nguyen Van Ly, padre católico preso e condenado a oito anos de prisão no Vietname, por sua luta pró-democracia;
- Álvaro Uribe, presidente colombiano, por sua luta incansável contra os terroristas de extrema esquerda (FARC) e os barões da droga naquele país;
- Garry Kasparov e outras centenas de cidadãos russos, presos em Abril e continuamente ameaçados por sua resistência ao regime autoritário de Vladmir Putin;
- Vitor Yushchenko e Mikheil Saakasshvilli, presidentes da Ucrânia e da Geórgia, respectivamente, por sua resistência face aos constantes esforços do Kremlin para subjugar aqueles Estados soberanos.
- (postumamente) Walid Eido, Pierre Gemayel, Antoine Ghanen, Rafik Hariri, George Hawi, Gibran Tueni, Samir Kassir e outros cidadãos libaneses, assassinados em 2005, em razão de sua luta para libertar o Líbano do controlo sírio.
- Reverendo Phillip Buck, Pastor Chun Ki Won e a sua organização Durihana; Tim Peters e a Organização Helping Hands Korea, que ajudam refugiados norte-coreanos a escapar do brutal regime comunista da Coreia do Norte.
Esperemos que eles, bem como outros milhares de homens e mulheres que põem as suas vidas quotidianamente em risco, na tentativa de banir do mundo a violência e a opressão, sobrevivam mais um ano e – quem sabe? – possam ser lembrados pelo comité do Prémio Nobel, na edição de 2008.

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Jurista e Docente Universitário

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