DEMOCRACIA, DESINFORMAÇÃO, PLURALISMO
Hoje, trago-vos um texto interessante escrito por João Luiz
Mauad, no dia 19 de Outubro deste ano. É uma análise saborosa acerca dos
estranhos movimentos de Al Gore, um fulano que procura, com a cobertura da
imprensa internacional, manter um inexistente "consenso" à volta do
"aquecimento" global. Aí há tempos, também neste jornal, disponibilizei vários
"sites" onde alguns dos mais reputados Cientistas do mundo contrariavam a
lengalenga de Al Gore. É claro que essas notícias nunca passam na imprensa
estatal cabo-verdiana, preocupada, aliás, com uma certa e conhecida cosmovisão
ideológica.Vivemos no reino da desinformação sistemática
Um dos grandes males da democracia cabo-verdiana é a falta
de pluralismo na imprensa, mormente na televisão e na rádio. O ambiente é pouco
favorável ao debate e ao confronto de ideias. A nossa TCV é uma caixa de
ressonância do Governo, boicotando, muitas vezes, as acções da oposição e da
sociedade civil. Além disso, vigora uma tremenda falta de seriedade por parte da
"tutela", que oscila entre a manipulação (veja-se o concurso fantoche na
atribuição dos canais televisivos...) e a demagogia, bem ilustrada pelos
"jornalistas" que o Governo pretende "formar" no prazo de um mês (em boa hora, o
atento Sá Nogueira desmontou essa palhaçada, num artigo criterioso publicado
neste diário digital).
A experiência de Hugo Chávez na Venezuela é um exemplo
perfeito da dicotomia existente entre a Democracia e a Liberdade. São, como
tenho repetido bastas vezes, conceitos distintos, convivendo numa certa tensão.
Pensadores como Tocqueville, Stuart Mill ou Zakaria (mais recentemente...) nunca
confundiram as duas coisas. A democracia é o apelo à soberania popular,
eleições, etc. A liberdade é, sobretudo, a
garantia dos direitos fundamentais, da liberdade de
imprensa e de um poder judicial independente. A fundamentação da democracia não
é, pois, a mesma coisa que a fundamentação da liberdade.
(Antes de terminar, permitam-me um brevíssimo comentário
sobre a candidatura de Onésimo Silveira à Câmara Municipal de São Vicente.
Onésimo discursou, muito torto e tendencioso. José Maria Neves tentou passar a
fatal ideia de que o senhor Onésimo é a "renovação". Ora, ninguém, muito menos o
presidente do PAICV, acredita nisso. O espectáculo, com muita tagarelice à
mistura, foi, por conseguinte, uma enorme farsa, pouco recomendável, porque toda
a gente conhece o dito personagem. Onésimo não representa qualquer "seriedade"
no espaço público nacional, por mais que se vocifere o contrário. A sua
truculência é, de resto, sobejamente conhecida. Ética, José Neves?! A "ética" do
doutor Onésimo caiu, infelizmente, há muito tempo. Murchou, em definitivo.
Parafraseando Olavo de Carvalho, diria que não há Viagra - ainda que em doses
cavalares - que possa levantá-la...).
Hoje, trago-vos um texto interessante escrito por João Luiz
Mauad, no dia 19 de Outubro deste ano. É uma análise saborosa acerca dos
estranhos movimentos de Al Gore, um fulano que procura, com a cobertura da
imprensa internacional, manter um inexistente "consenso" à volta do
"aquecimento" global. Aí há tempos, também neste jornal, disponibilizei vários
"sites" onde alguns dos mais reputados Cientistas do mundo contrariavam a
lengalenga de Al Gore. É claro que essas notícias nunca passam na imprensa
estatal cabo-verdiana, preocupada, aliás, com uma certa e conhecida cosmovisão
ideológica.Vivemos no reino da desinformação sistemática.
O texto de Mauad, publicado originalmente no Mídia Sem
Máscara, intitula-se " O Triunfo do Medo". Ei-lo (a adaptação da grafia é da
minha exclusiva responsabilidade):
Alguns meses depois de abocanhar um Oscar, o
ex-vice-presidente norte-americano, Al Gore, foi agraciado, semana passada, com
o Prémio Nobel da Paz. De acordo com os responsáveis pela escolha, "por seus
esforços no combate às mudanças climáticas". Muito interessante, e sintomático,
foi o facto de que, na mesma semana, o venerando máximo da religião do
aquecimento global esteve nas manchetes inglesas por uma outra razão. É que a
alta corte daquele país decidiu que o famigerado documentário "Uma Verdade
Inconveniente" somente poderia ser exibido nas escolas britânicas com a devida
explicação, prévia, de que o mesmo contém nada menos que – comprovados – "nove
erros científicos". Também, segundo a referida sentença, os professores ingleses
deveriam chamar a atenção dos estudantes para certos "exageros" e para o
carácter "alarmista" da película.
Mas o que são meros nove erros, não é mesmo? Nada que tire
a importância e a beleza de um filme que nos apresenta uma "verdade maior", qual
seja: somos responsáveis pelas mudanças climáticas que destruirão o mundo, se
nada for feito imediatamente. O que, afinal, representam alguns "pequenos"
equívocos científicos, desde que eles estejam ao serviço de uma verdade maior?
Simples acidentes de percurso, sem maiores consequências. A exemplo de vários
outros veículos de imprensa, engolidos pela onda catastrofista, o Jornal do
Brasil estampou a seguinte "pérola", em editorial publicado no dia 16/10:
"Embora com alguma imprecisão de dados, o documentário protagonizado pelo
político arrancou aplausos da crítica e fez o grande público reflectir sobre a
questão ambiental. Talvez aí esteja o maior mérito de Al Gore".
Os erros – tanto factuais quanto conceituais – expostos
naquela película propagandista manchariam a biografia de qualquer cientista. No
entanto, Gore não é um cientista, mas um político cuja intenção não é outra
senão politizar a ciência. No seu mundo, a climatologia não gira em torno da
investigação, dos métodos, da experimentação, ou teste de hipóteses. Na práxis
goreana, evidências empíricas ou lógicas dão lugar a (in)convenientes verdades e
a estranhos consensos.
É difícil ignorar um forte apelo moral nos discursos de Al
Gore. A exemplo de um certo líder tupiniquim, ele jamais perde uma oportunidade
que seja para vender ao público a sua autoproclamada vocação de grande guia dos
povos. A sua cruzada, segundo ele mesmo, está voltada a prevenir uma catástrofe
global, que, por sua vez, é sustentada por verdades irrefutáveis, as quais lhe
foram "reveladas", não por entidades supranaturais, mas por um pretenso consenso
científico. Os seus ataques incessantes contra os chamados "cépticos" se devem
justamente à necessidade de afirmar este famigerado consenso.
Assim, a investigação científica, cujo pressuposto básico é
– ou pelo menos deveria ser – a própria dúvida, e nunca a certeza, acaba
transformando-se num dogma espiritual. Na religião deste verdadeiro profeta do
medo só há espaço para o bem e para o mal, para o comportamento "virtuoso" dos
engajados ou "vicioso" dos cépticos.
Num mundo onde a razão foi sequestrada pela paranóia e o
apocalipse nos é vendido como iminente, nada mais natural que a busca
desesperada por heróis, salvadores da humanidade, líderes espirituais que nos
guiarão e protegerão das intempéries provocadas pela nossa própria ganância. Mas
isso só não basta. A humanidade está em guerra e, como é natural em tempos de
guerra, todo o poder e dinheiro deverão ser entregues aos Leviatãs, sem esquecer
que, neste caso, como o inimigo é comum a todos, a grande divindade mística, a
suprema burocracia supranacional, será chamada a descer do Olimpo, às margens do
Rio Hudson, para liderar as forças nacionais rumo à vitória final.
O mais estúpido desse prémio, no entanto, não é tê-lo
concedido a um animador de auditórios, mascate de uma "verdade" muito
conveniente (para alguns) e nada científica, mas, como bem frisou o Wall Street
Journal, preterir alguns personagens cujas causas são muito mais importantes e
urgentes, e cujo mérito [das respectivas acções] é inquestionável – pelo menos
para os amantes da liberdade.
Eis uma pequena lista de alguns destes homens e mulheres,
preparada pelo WSJ:
- Os monges budistas de Myanmar, recentemente brutalizados
pela junta militar que governa aquele país há anos, em razão de suas acções em
defesa da liberdade e da democracia;
- Morgan Tsvangiari, Arthur Mutambara e outros líderes
oposicionistas do Zimbabwe, presos e espancados, no início do ano, pela polícia
política do ditador Robert Mugabe;
- Nguyen Van Ly, padre católico preso e condenado a oito
anos de prisão no Vietname, por sua luta pró-democracia;
- Álvaro Uribe, presidente colombiano, por sua luta
incansável contra os terroristas de extrema esquerda (FARC) e os barões da droga
naquele país;
- Garry Kasparov e outras centenas de cidadãos russos,
presos em Abril e continuamente ameaçados por sua resistência ao regime
autoritário de Vladmir Putin;
- Vitor Yushchenko e Mikheil Saakasshvilli, presidentes da
Ucrânia e da Geórgia, respectivamente, por sua resistência face aos constantes
esforços do Kremlin para subjugar aqueles Estados soberanos.
- (postumamente) Walid Eido, Pierre Gemayel, Antoine
Ghanen, Rafik Hariri, George Hawi, Gibran Tueni, Samir Kassir e outros cidadãos
libaneses, assassinados em 2005, em razão de sua luta para libertar o Líbano do
controlo sírio.
- Reverendo Phillip Buck, Pastor Chun Ki Won e a sua
organização Durihana; Tim Peters e a Organização Helping Hands Korea, que ajudam
refugiados norte-coreanos a escapar do brutal regime comunista da Coreia do
Norte.
Esperemos que eles, bem como outros milhares de homens e
mulheres que põem as suas vidas quotidianamente em risco, na tentativa de banir
do mundo a violência e a opressão, sobrevivam mais um ano e – quem sabe? –
possam ser lembrados pelo comité do Prémio Nobel, na edição de 2008.
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