quinta-feira, 25 de janeiro de 2007

ANTIAMERICANISMO E REVOLUÇÃO COMUNISTA

Perguntem agora, a esses brilhantes defensores dos direitos humanos, quantos “prisioneiros de guerra” morreram (de tortura) em Guantánamo, prisão tão vilipendiada, e quantos morreram nas prisões de Fidel. A patranha desfaz-se, num ápice, com comparações: ninguém, até hoje, morreu em Guantánamo, sob a jurisdição americana. Sem esquecer (e isso eles não dizem!) que o Supremo Tribunal americano já produziu uma sentença que obriga a Administração a respeitar a Convenção de Genebra. Logo após a decisão, Bush vergou-se, porque nos EUA, ao contrário de Cuba ou Cabo Verde, ninguém põe em causa as decisões dos tribunais. É a “rule of Law”

O antiamericanismo, é bom que fique claro, não é uma crítica qualquer contra os Estados Unidos da América. Os EUA, como qualquer outro país, tem as suas falhas e as suas imperfeições. A atitude de um homem da estatura de Martin Luther King, por exemplo, não tinha nada de “antiamericanismo”. As críticas que o famoso reverendo fazia eram críticas demasiado justas. Legítimas. Ele contestava a discriminação racial. Reivindicava direitos iguais para os negros, com base, recorde-se, na Constituição norte-americana, a Lei Fundamental que, desde 1787, fundou a modernidade política ocidental, aspecto bastas vezes esquecido. Foi a tradição anglo-americana (e não os cínicos antiamericanos) que fundou a Liberdade dos Modernos. Uma tradição que não é perfeita, como reconhecia o grande Churchill, mas que não tem concorrentes à altura. “A democracia é o pior dos regimes, exceptuando todos os outros”.
Hannah Arendt publicou páginas quase defintivas a esse respeito, comparando a Revolução Americana com a Francesa. Numa perspectiva iluminante, nunca é demais recordar esse grande livro do já clássico Alexis de Tocqueville, “Da democracia na América”, escrito numa altura em que a Europa estava praticamente mergulhada na pobreza e no despotismo.
A História tem o condão de marcar as coordenadas e as referências. Muitos papagaios de salão costumam, todavia, negligenciar esses aspectos. Aliás, durante o século XX, e por duas vezes, milhares de norte-americanos foram morrer na Europa pela Liberdade, combatendo as duas maiores tiranias que a História moderna conheceu: o Nazismo e o Comunismo estalinista.
Além disso, a reconstrução europeia (pós-1945) foi, em grande medida, um esforço americano, através do Plano Marshall e da NATO, que vem garantindo a estabilidade da actual Europa democrática. Como recordou de forma indiscutível Robert Kagan, especialista em geopolítica, a “Europa kantiana”, que hoje arvora-se em única defensora da paz e das liberdades, é uma criação da “América hobbesiana”, tachada de “belicista” e “militarista”. Estes aspectos, por uma estranha ironia, são quase sempre ignorados.
É curioso quando alguns põem-se a retratar os EUA como uma nação obscurantista! Quase todas as grandes criações que marcam a nossa Era nasceram na pátria de George Washington. Foi ela a primeira nação a aprovar uma Constituição moderna, com separação de poderes, liberdade religiosa e direito de iniciativa individual. Foi aí que nasceu o primeiro sistema moderno de partidos políticos, como frisou Seymour Lipset.
Foi nos EUA que a instrução obrigatória conheceu a luz do dia, ainda no século XIX. Não por acaso, esse investimento precoce no Capital Humano ditou o seu enorme sucesso económico, como Schultz, mais tarde, iria reconhecer, mediante análise científica do papel da educação na prosperidade.
As universidades americanas, ainda hoje, são as mais bem cotadas, ou já deixaram de consultar o “ranking” mundial? Em contrapartida, as do Brasil e da Europa (exceptuando as britânicas e pouco mais) chafurdam na estultícia ideológica, remoendo a “teoria da dependência” e culpando a América pelos seus fracassos internos, num pretenso “modelo” social, simbolizado pela França, que só tem produzido atraso e desemprego em larga escala.
Como Jean-François Revel, um francês distinto, assinalou, só a universidade de Harvard tem um orçamento superior ao conjunto das universidades francesas. É esse investimento colossal no saber e nas tecnologias que faz a grandeza dessa nação odiada. Basta vermos a quantidade de prémios “Nóbeis” ganhos por norte-americanos. É assim porque essa nação sabe apostar no saber, sem distinção de raça, religião ou convicções filosóficas.
O primeiro país que deu o direito de sufrágio às mulheres foi a América, onde se fez, também, a “revolução sexual” dos anos 60 (do século XX) e se construiu a maior indústria artística de sempre, englobando o cinema, o teatro e a música. A ecologia foi também uma criação americana, quando Nixon, num célebre discurso sobre o “estado da União”, lançou esse novo desafio, a protecção do ambiente, perante a chacota geral da “inteligência” europeia da época.
Os direitos humanos eram, sobretudo, um problema interno de cada Estado. Foi um presidente norte-americano, Jimmy Carter, que incluiu esse tópico na diplomacia internacional, numa altura em que a “consciência” europeia ainda elogiava os “belos” métodos do maoismo e via Fidel Castro como a “grande esperança” do porvir.
A lista é enorme e não cabe num simples artigo de esclarecimento.
O antiamericanismo, por vezes, é apenas o equivalente simétrico do fracasso nacional. O antiamericanismo não é uma crítica. É uma obsessão, alimentado pelo ódio sem fundamento.
Infelizmente, os herdeiros do socialismo marxista não querem estudar as causas que fizeram a “superpotência hegemónica” que eles tanto detestam. Revel estudou tudo isso. A “superpotência” é, antes do mais, o fruto maduro da imperícia europeia. Do Renascimento à I Guerra Mundial, a Europa era a “superpotência”. Ninguém tem culpa se ela, depois desse longo esplendor, com o imperialismo pelo meio, caiu no totalitarismo político, na sandice comunista ou nos fascismos que copiosamente produziu. Foi a Europa que produziu, pelo seu fracasso, a “superpotência” americana.
A sorte, para os europeus, é que, do outro lado do Atlântico, não havia um Estaline, mas uma potência benigna e democrática. Em vez do Plano Marshall, a América podia ter construído um vasto império sobre as ruínas deixadas pela II Guerra Mundial. Fez, todavia, o contrário.
Eric Voegelin, um dos maiores cientistas politicos do século XX, resumiu isso numa síntese memorável: “Os factos são simples e, no entanto, não é suficientemente aceite a constatação de que, nunca antes na história da humanidade, uma potência mundial usou a sua vitória deliberadamente para criar um vácuo de poder em seu próprio prejuízo”.
O que os amantes do socialismo totalitário querem é incensar o ditador Fidel Castro e o seu acólito Hugo Chávez, esse pequeno Hitler montado no cavalo da demagogia, que agora tem o aval do Congresso para promulgar decretos pessoais durante 18 meses. Chávez quer rever a Constituição para ficar “mais tempo” no poder. O charlatão de Caracas manipula, inclusive, os símbolos históricos, apresentando-se como o novo “Bolívar”, quando se sabe que este velho herói da independência latina admirava a Revolução americana, a economia de mercado e a liberdade individual. (Sobre a actual realidade latino-americana e os problemas sócio-económicos da região, ver Percival Puggina em www.midiasemmascara.org/artigo.php?sid=5517&language=pt).
Não interessa, para muita gente, se Fidel Castro lançou Cuba na bancarrota económica e na mais patética ditadura, onde a posse não autorizada de um aparelho de fax dá cadeia (ver o “Livro Negro de Cuba”, editado pela Repórter Sem Fronteiras, Amnistia Internacional, Pax Christi, etc., Alétheia Editores, Lisboa, 2005, com denúncias rigorosas que desmontam a visão idílica da “revolução cubana” em todos os sectores, da educação à justiça; vale a pena ler o notável prefácio de José Manuel Fernandes), ou se Chávez, num país que é o sétimo produtor do petróleo, só faz crescer a miséria e a perseguição aos jornalistas. Não! A prioridade das prioridades é atacar George Bush e o fantástico “neoliberalismo”. O mais interessante é que os “críticos”, inteligentes como são, nunca perguntam aos milhares de cubanos (venezuelanos, brasileiros, etc.) porque preferem fugir, a todo o custo, para a infeliz pátria do “neoliberalismo”, os Estados Unidos da América, Babel onde predomina, na profícua sugestão de um recente artigo dos senhores Luiz Leitão e Artur Teixeira, “o medo e a ameaça à liberdade”, encastelados no sistema político!
Se calhar os cubanos preferem emigrar para conhecerem, sim, “in loco”, um pouco da injustiça capitalista e da carestia geral do “neoliberalismo selvagem”!
O antiamericanismo é um exercício da desinformação e da má fé. É o caso do texto dos dois ilustres cavalheiros atrás citados. Reparem, aliás, nesta frase prodigiosa, que cito com a devida e merecida vénia: “A prisão americana na ilha de Cuba está anos-luz à frente dos cárceres de Fidel no quesito crueldade”!
Perguntem agora, a esses brilhantes defensores dos direitos humanos, quantos “prisioneiros de guerra” morreram (de tortura) em Guantánamo, prisão tão vilipendiada, e quantos morreram nas prisões de Fidel. A patranha desfaz-se, num ápice, com comparações: ninguém, até hoje, morreu em Guantánamo, sob a jurisdição americana. Sem esquecer (e isso eles não dizem!) que o Supremo Tribunal americano já produziu uma sentença que obriga a Administração a respeitar a Convenção de Genebra. Logo após a decisão, Bush vergou-se, porque nos EUA, ao contrário de Cuba ou Cabo Verde, ninguém põe em causa as decisões dos tribunais. É a “rule of Law”.
Em contrapartida, Fidel Castro, ditador não eleito há meio século, seguindo a generosa cartilha estalinista, matou milhares e milhares de cubanos, criaturas infelizes que tiveram a coragem de enfrentar a brutalidade da Polícia Política e a estupidez de um regime que tem o desplante de condenar escritores e poetas a vinte anos de prisão porque ousam…escrever. Como sublinhou Raúl Rivero, respondendo tranquilamente aos carrascos que o condenaram, “Eu não conspiro, escrevo”.
Mas isso não perturba, nem ao de leve, a “consciência” dos humanistas da Internet! Eles não lamentam o destino dos milhares de cidadãos trucidados, de mil e uma maneiras, pelo regime jurássico de Fidel; eles lamentam, pelo contrário, a sorte daqueles que George Bush não matou! Por aí se vê qual é a escala de valores que os magníficos subscrevem, a coberto de uma retórica nervosa, quase obscena.
É pela via da comparação, num mundo imperfeito, que percebemos a ideologia e a escala de princípios dos navegantes.
Falar da liberdade e dos direitos humanos exige coerência e imparcialidade. Nestas coisas não se pode ter “dois pesos e duas medidas”. Um peso para Bush, outro para o santo barbudo Fidel Castro. O primeiro é “microscópico”, capta tudo. O segundo é selectivo, filtra alguns crimes graves que a utopia comunista não contempla. Assim não!

Seja o primeiro a comentar

Enviar um comentário


About Me

Jurista e Docente Universitário

O Espírito das Leis ©

TOPO