ANTIAMERICANISMO E REVOLUÇÃO COMUNISTA
Perguntem agora, a esses brilhantes defensores
dos direitos humanos, quantos “prisioneiros de guerra” morreram (de
tortura) em Guantánamo, prisão tão vilipendiada, e quantos morreram nas
prisões de Fidel. A patranha desfaz-se, num ápice, com comparações:
ninguém, até hoje, morreu em Guantánamo, sob a jurisdição americana.
Sem esquecer (e isso eles não dizem!) que o Supremo Tribunal americano
já produziu uma sentença que obriga a Administração a respeitar a
Convenção de Genebra. Logo após a decisão, Bush vergou-se, porque nos
EUA, ao contrário de Cuba ou Cabo Verde, ninguém põe em causa as
decisões dos tribunais. É a “rule of Law”
O antiamericanismo, é bom que fique claro, não é
uma crítica qualquer contra os Estados Unidos da América. Os EUA, como
qualquer outro país, tem as suas falhas e as suas imperfeições. A
atitude de um homem da estatura de Martin Luther King, por exemplo, não
tinha nada de “antiamericanismo”. As críticas que o famoso reverendo
fazia eram críticas demasiado justas. Legítimas. Ele contestava a
discriminação racial. Reivindicava direitos iguais para os negros, com
base, recorde-se, na Constituição norte-americana, a Lei Fundamental
que, desde 1787, fundou a modernidade política ocidental, aspecto
bastas vezes esquecido. Foi a tradição anglo-americana (e não os
cínicos antiamericanos) que fundou a Liberdade dos Modernos. Uma
tradição que não é perfeita, como reconhecia o grande Churchill, mas
que não tem concorrentes à altura. “A democracia é o pior dos regimes,
exceptuando todos os outros”.
Hannah Arendt publicou páginas quase defintivas
a esse respeito, comparando a Revolução Americana com a Francesa. Numa
perspectiva iluminante, nunca é demais recordar esse grande livro do já
clássico Alexis de Tocqueville, “Da democracia na América”, escrito
numa altura em que a Europa estava praticamente mergulhada na pobreza e
no despotismo.
A História tem o condão de marcar as coordenadas
e as referências. Muitos papagaios de salão costumam, todavia,
negligenciar esses aspectos. Aliás, durante o século XX, e por duas
vezes, milhares de norte-americanos foram morrer na Europa pela
Liberdade, combatendo as duas maiores tiranias que a História moderna
conheceu: o Nazismo e o Comunismo estalinista.
Além disso, a reconstrução europeia (pós-1945)
foi, em grande medida, um esforço americano, através do Plano Marshall
e da NATO, que vem garantindo a estabilidade da actual Europa
democrática. Como recordou de forma indiscutível Robert Kagan,
especialista em geopolítica, a “Europa kantiana”, que hoje arvora-se em
única defensora da paz e das liberdades, é uma criação da “América
hobbesiana”, tachada de “belicista” e “militarista”. Estes aspectos,
por uma estranha ironia, são quase sempre ignorados.
É curioso quando alguns põem-se a retratar os
EUA como uma nação obscurantista! Quase todas as grandes criações que
marcam a nossa Era nasceram na pátria de George Washington. Foi ela a
primeira nação a aprovar uma Constituição moderna, com separação de
poderes, liberdade religiosa e direito de iniciativa individual. Foi aí
que nasceu o primeiro sistema moderno de partidos políticos, como
frisou Seymour Lipset.
Foi nos EUA que a instrução obrigatória conheceu
a luz do dia, ainda no século XIX. Não por acaso, esse investimento
precoce no Capital Humano ditou o seu enorme sucesso económico, como
Schultz, mais tarde, iria reconhecer, mediante análise científica do
papel da educação na prosperidade.
As universidades americanas, ainda hoje, são as
mais bem cotadas, ou já deixaram de consultar o “ranking” mundial? Em
contrapartida, as do Brasil e da Europa (exceptuando as britânicas e
pouco mais) chafurdam na estultícia ideológica, remoendo a “teoria da
dependência” e culpando a América pelos seus fracassos internos, num
pretenso “modelo” social, simbolizado pela França, que só tem produzido
atraso e desemprego em larga escala.
Como Jean-François Revel, um francês distinto,
assinalou, só a universidade de Harvard tem um orçamento superior ao
conjunto das universidades francesas. É esse investimento colossal no
saber e nas tecnologias que faz a grandeza dessa nação odiada. Basta
vermos a quantidade de prémios “Nóbeis” ganhos por norte-americanos. É
assim porque essa nação sabe apostar no saber, sem distinção de raça,
religião ou convicções filosóficas.
O primeiro país que deu o direito de sufrágio às
mulheres foi a América, onde se fez, também, a “revolução sexual” dos
anos 60 (do século XX) e se construiu a maior indústria artística de
sempre, englobando o cinema, o teatro e a música. A ecologia foi também
uma criação americana, quando Nixon, num célebre discurso sobre o
“estado da União”, lançou esse novo desafio, a protecção do ambiente,
perante a chacota geral da “inteligência” europeia da época.
Os direitos humanos eram, sobretudo, um problema
interno de cada Estado. Foi um presidente norte-americano, Jimmy
Carter, que incluiu esse tópico na diplomacia internacional, numa
altura em que a “consciência” europeia ainda elogiava os “belos”
métodos do maoismo e via Fidel Castro como a “grande esperança” do
porvir.
A lista é enorme e não cabe num simples artigo de esclarecimento.
O antiamericanismo, por vezes, é apenas o
equivalente simétrico do fracasso nacional. O antiamericanismo não é
uma crítica. É uma obsessão, alimentado pelo ódio sem fundamento.
Infelizmente, os herdeiros do socialismo
marxista não querem estudar as causas que fizeram a “superpotência
hegemónica” que eles tanto detestam. Revel estudou tudo isso. A
“superpotência” é, antes do mais, o fruto maduro da imperícia europeia.
Do Renascimento à I Guerra Mundial, a Europa era a “superpotência”.
Ninguém tem culpa se ela, depois desse longo esplendor, com o
imperialismo pelo meio, caiu no totalitarismo político, na sandice
comunista ou nos fascismos que copiosamente produziu. Foi a Europa que
produziu, pelo seu fracasso, a “superpotência” americana.
A sorte, para os europeus, é que, do outro lado
do Atlântico, não havia um Estaline, mas uma potência benigna e
democrática. Em vez do Plano Marshall, a América podia ter construído
um vasto império sobre as ruínas deixadas pela II Guerra Mundial. Fez,
todavia, o contrário.
Eric Voegelin, um dos maiores cientistas
politicos do século XX, resumiu isso numa síntese memorável: “Os factos
são simples e, no entanto, não é suficientemente aceite a constatação
de que, nunca antes na história da humanidade, uma potência mundial
usou a sua vitória deliberadamente para criar um vácuo de poder em seu
próprio prejuízo”.
O que os amantes do socialismo totalitário
querem é incensar o ditador Fidel Castro e o seu acólito Hugo Chávez,
esse pequeno Hitler montado no cavalo da demagogia, que agora tem o
aval do Congresso para promulgar decretos pessoais durante 18 meses.
Chávez quer rever a Constituição para ficar “mais tempo” no poder. O
charlatão de Caracas manipula, inclusive, os símbolos históricos,
apresentando-se como o novo “Bolívar”, quando se sabe que este velho
herói da independência latina admirava a Revolução americana, a
economia de mercado e a liberdade individual. (Sobre a actual realidade
latino-americana e os problemas sócio-económicos da região, ver
Percival Puggina em www.midiasemmascara.org/artigo.php?sid=5517&language=pt).
Não interessa, para muita gente, se Fidel Castro
lançou Cuba na bancarrota económica e na mais patética ditadura, onde a
posse não autorizada de um aparelho de fax dá cadeia (ver o “Livro
Negro de Cuba”, editado pela Repórter Sem Fronteiras, Amnistia
Internacional, Pax Christi, etc., Alétheia Editores, Lisboa, 2005, com
denúncias rigorosas que desmontam a visão idílica da “revolução cubana”
em todos os sectores, da educação à justiça; vale a pena ler o notável
prefácio de José Manuel Fernandes), ou se Chávez, num país que é o
sétimo produtor do petróleo, só faz crescer a miséria e a perseguição
aos jornalistas. Não! A prioridade das prioridades é atacar George Bush
e o fantástico “neoliberalismo”. O mais interessante é que os
“críticos”, inteligentes como são, nunca perguntam aos milhares de
cubanos (venezuelanos, brasileiros, etc.) porque preferem fugir, a todo
o custo, para a infeliz pátria do “neoliberalismo”, os Estados Unidos
da América, Babel onde predomina, na profícua sugestão de um recente
artigo dos senhores Luiz Leitão e Artur Teixeira, “o medo e a ameaça à
liberdade”, encastelados no sistema político!
Se calhar os cubanos preferem emigrar para
conhecerem, sim, “in loco”, um pouco da injustiça capitalista e da
carestia geral do “neoliberalismo selvagem”!
O antiamericanismo é um exercício da
desinformação e da má fé. É o caso do texto dos dois ilustres
cavalheiros atrás citados. Reparem, aliás, nesta frase prodigiosa, que
cito com a devida e merecida vénia: “A prisão americana na ilha de Cuba
está anos-luz à frente dos cárceres de Fidel no quesito crueldade”!
Perguntem agora, a esses brilhantes defensores
dos direitos humanos, quantos “prisioneiros de guerra” morreram (de
tortura) em Guantánamo, prisão tão vilipendiada, e quantos morreram nas
prisões de Fidel. A patranha desfaz-se, num ápice, com comparações:
ninguém, até hoje, morreu em Guantánamo, sob a jurisdição americana.
Sem esquecer (e isso eles não dizem!) que o Supremo Tribunal americano
já produziu uma sentença que obriga a Administração a respeitar a
Convenção de Genebra. Logo após a decisão, Bush vergou-se, porque nos
EUA, ao contrário de Cuba ou Cabo Verde, ninguém põe em causa as
decisões dos tribunais. É a “rule of Law”.
Em contrapartida, Fidel Castro, ditador não
eleito há meio século, seguindo a generosa cartilha estalinista, matou
milhares e milhares de cubanos, criaturas infelizes que tiveram a
coragem de enfrentar a brutalidade da Polícia Política e a estupidez de
um regime que tem o desplante de condenar escritores e poetas a vinte
anos de prisão porque ousam…escrever. Como sublinhou Raúl Rivero,
respondendo tranquilamente aos carrascos que o condenaram, “Eu não
conspiro, escrevo”.
Mas isso não perturba, nem ao de leve, a
“consciência” dos humanistas da Internet! Eles não lamentam o destino
dos milhares de cidadãos trucidados, de mil e uma maneiras, pelo regime
jurássico de Fidel; eles lamentam, pelo contrário, a sorte daqueles que
George Bush não matou! Por aí se vê qual é a escala de valores que os
magníficos subscrevem, a coberto de uma retórica nervosa, quase obscena.
É pela via da comparação, num mundo imperfeito, que percebemos a ideologia e a escala de princípios dos navegantes.
Falar da liberdade e dos direitos humanos exige
coerência e imparcialidade. Nestas coisas não se pode ter “dois pesos e
duas medidas”. Um peso para Bush, outro para o santo barbudo Fidel
Castro. O primeiro é “microscópico”, capta tudo. O segundo é selectivo,
filtra alguns crimes graves que a utopia comunista não contempla. Assim
não!
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